Possíveis doenças após inundações no Rio Grande do Sul
Por Nicole Rangel
As chuvas e inundações que atingiram o Rio Grande do Sul podem acarretar em consequências para a saúde pública a longo prazo. Segundo especialistas, os reflexos da catástrofe ambiental devem vir em ondas de doenças infecciosas.
Muito do que se sabe sobre os prejuízos na saúde após grandes enchentes vem de pesquisas sobre países como o Paquistão, Índia e Indonésia, onde essas catástrofes são mais comuns. Os estudos baseados nesses locais permitiram que pesquisadores encontrassem certo padrão de doenças infecciosas depois do desastre, além de descobrir em quanto tempo elas costumam aparecer.
Diarreias, infecções na pele e doenças respiratórias
Um estudo publicado pela revista Oxford Academic mostrou que as doenças mais comuns após 10 dias de um desastre são infecções na pele, pneumonias, infecções respiratórias virais e gastroenterites (diarréia), que ocorrem devido ao contato com a água contaminada. Segundo a publicação, os mais vulneráveis a essas doenças são as crianças e os idosos, que merecem mais atenção para evitar quadros de desidratação extrema.
As infecções na pele estão relacionadas ao contato com materiais contaminados nas alagações. As doenças respiratórias, por sua vez, geralmente são causadas pela aglomeração, já que muitas pessoas estão reunidas em abrigos, facilitando a transmissão de vírus causadores de resfriado, gripe e covid-19. Nesse caso, a imunização e reforço por meio da vacinação é essencial.
Além disso, evitar a contaminação por patógenos lavando as mãos, mantendo a higiene pessoal (na medida do possível em meio às condições) e não consumindo alimentos que tiveram contato com a enchente é de suma importãncia para que as enfermidades não se alastrem.
Leptospirose, tétano e hepatite A
Passados os primeiros dez dias após as inundações, doenças como leptospirose, tétano e hepatite A ganham força. A principal preocupação é a leptospirose, que tem seu patógeno instalado no instante em que a pessoa tem contato com a água contaminada, mas só manifesta seus sintomas após o tempo de incubação (que pode variar de uma semana a um mês).
Os principais sintomas geralmente são febre, pele amarelada, vômito, cansaço e dor muscular, mas especialistas afirmam que não é preciso aguardar a manifestação desses sinais para procurar ajuda médica, especialmente nas condições do Rio Grande do Sul.
Em situações de alto risco de leptospirose, a Sociedade Brasileira de Infectologia defende o tratamento profilático com antimicrobianos (quimioprofilaxia). Ou seja, as pessoas que têm mais contato com a água contaminada devem ingerir remédios preventivos, antes mesmo da manifestação de sintomas. Em nota oficial publicada no dia 5 de maio, a entidade afirma que apesar de alguns fatores contrários, há uma tendência de benefício no uso desses medicamentos em casos de alto risco.
Para doenças infecciosas como a hepatite A ou tétano, existem vacinas disponíveis que talvez necessitem reforço em alguns indivíduos da população gaúcha.
Dengue
A Secretaria do Estado da Saúde do Rio Grande do Sul divulgou uma nota alertando os gaúchos sobre os riscos de dengue após as fortes chuvas e enchentes no estado.
O cenário pós-chuvas é propício para a proliferação do mosquito aedes aegypti, já que criam-se acúmulos de água nos entulhos que podem servir de criadouro.
Segundo o documento, a população também deve atentar-se a sintomas como febre alta, erupções cutâneas, dores musculares ou cefaléia. Como a doença tem um período de incubação de até 15 dias, pessoas que foram picadas antes das enchentes podem estar manifestando sintomas agora.
Quando as águas baixarem, a recomendação é redobrar a atenção quanto aos criadouros, não deixando focos de água parada nos recipientes e eletrodomésticos que foram danificados pela chuva. Além disso, a população também deve atentar-se à manifestação dos sintomas anteriormente mencionados, buscando ajuda médica nos serviços de saúde abertos ou mesmo nos abrigos em que estiverem.