Novas Tecnologias para a Personalização na Saúde

Por Maitê Branco Kröeber

Thiago Liguori, Armando Lopes, Veridiana Cano e Ricardo Ramires (da esquerda para a direita) durante o FISWeek 24, no Rio de Janeiro | Foto: Karollyna Braz Gonçalves

O membro do Conselho Consultivo da empresa Marisa.Care e ex-Diretor de Sinistro, Operações Clínicas, Mercado e Regulação da Healthtec Sami, Ricardo Ramires, questionou o modelo de mercado atual da indústria da saúde e frisou a importância de mudar o mindset da gestão. O empresário participou do painel “Novas Tecnologias para a Personalização na Saúde” durante o festival FISWeek 24, nesta quinta-feira (7), no Rio de Janeiro. O debate contou com a participação do CEO da Stealth Startup, Thiago Liguori e da oncologista da Roche Veridiana Cano e foi mediado pelo Diretor-Gerente de Imagem Diagnóstica e Saúde Digital na América Latina da Siemens Healthineers, Armando Lopes. 

Liguori defendeu o desenvolvimento de uma jornada do paciente cada vez mais individualizada e argumentou que a tecnologia responsável pela revolução da área já existe, mas os empreendedores e médicos do mercado ainda não sabem utilizá-la. O cardiologista também questionou a falta da curadoria de dados que alimentam as inteligências artificiais e falou da urgência da padronização de dados para que a indústria possa trabalhar de forma uníssona. 

Segundo um estudo realizado pela empresa americana Strata Decision Technology em 2024, cerca de 40% das despesas totais em hospitais são gastos administrativos. Para Ramires, a falta de padronização da linguagem entre as áreas da saúde dificulta muito a relação entre o pagador e o prestador. “O que eu vejo nos novos modelos é que você tem que estar alinhado, porque - no final do dia - quem faz de tudo para cuidar do paciente não é o laboratório. A inserção do paciente no autocuidado é essencial”, afirmou.

Cano ressaltou a experiência do paciente durante a consulta e os palestrantes citaram exemplos promissores de como a IA pode personalizar e aumentar a segurança e juridicização da medicina: terapias genéticas como a CAR-T Cells; a ferramenta Regard, que extrai e analisa os dados do prontuário para o médico e o agente que faz agendamento de consulta por voz na rede Doutor Consulta foram alguns dos métodos mencionados. 

A oncologista também destacou como a inteligência artificial contribui para além da personalização no atendimento, sendo capaz de desenvolver novas células e adentrar áreas de “grande fardo social” como a hipertensão, a obesidade e o câncer. Dados compilados pelo Instituto Oncoguia em 2023 afirmam que 62% dos pacientes com câncer atendidos pelo SUS são diagnosticados já em estágio avançado. Os custos também aumentam quanto mais tardio começa o tratamento. Segundo uma análise de 2023 feita pelo Observatório de Oncologia, uma única sessão de quimioterapia contra o câncer de mama de estadiamento um (o mais precoce) custa R$ 134,17 aos cofres públicos, enquanto um na fase quatro da doença (a mais avançada) cresce para R$ 809,56 - um valor cerca de seis vezes maior. 

Quando você tem ferramentas de inteligência artificial logo na porta de entrada, você garante o conforto do médico e a confiança na informação
— Armando Lopes

Ramires destacou como voltar para o “básico” - ressignificando conhecimento - pode garantir um retorno muito maior, tanto para os pacientes quanto para os médicos e os hospitais. Ele também ressaltou a necessidade de uma mudança estrutural e advertiu que esse tradicionalismo do mercado pode “deixar o setor da saúde para trás”.

O debate foi finalizado com o questionamento sobre como a tecnologia pode potencializar que o tratamento do paciente seja mais personalizado, focal e humanizado. “A ideia é que cada vez mais a gente busque, nessas experiências, ajudar pacientes que normalmente não teriam acesso a esse tipo de terapia personalizada”, destacou Veridiana Cano.