Os males causados pelo consumo de álcool durante a gravidez

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por Isabelle Bernardes

O consumo de álcool durante a gravidez é uma das principais causas de déficit cognitivo-comportamental em crianças, além de poder ocasionar a Síndrome Alcóolica Fetal (SAF). O Brasil possui grande taxa de incidência desta síndrome: uma a duas crianças a cada mil casos possuem sintomas causados pelo consumo de álcool. A SAF afeta algumas variáveis hemodinâmicas no feto: o eixo endócrino regulador da resistência vascular, a reatividade vascular sistêmica, a hemodinâmica útero-placentária, a angiogênese e o remodelamento vascular.

A Síndrome Alcóolica Fetal é totalmente evitável e depende apenas da mãe. Como é uma síndrome de difícil diagnóstico, ele geralmente é feito por exclusão (eliminação de todos os possíveis problemas neurológicos congênitos), além de ser imprescindível que o acompanhamento da criança seja feito o mais rápido possível. O acompanhamento ambulatorial é fundamental para este grupo de crianças, uma vez que a detecção e a intervenção precoce das alterações do crescimento e desenvolvimento constituem importantes fatores prognósticos para a qualidade de vida. Ainda não existe cura para a doença, porém existem alguns tipos de tratamentos e terapias que podem diminuir as deficiências apresentadas.

O acompanhamento da mãe durante o pré-natal é tão importante quanto o acompanhamento da criança prioritariamente até os seis primeiros anos, por uma equipe de multiprofissionais (médico neurologista e pediatra, psicóloga, psicopedagoga, dentre outros).

A substância alcoólica ingerida durante a gestação pode provocar severas alterações no desenvolvimento fetal, comprometendo diversos órgãos. As crianças afetadas geralmente podem nascer com baixo peso, baixa estatura (PIG) e microcefalia. As alterações faciais são caracterizadas por: microftalmia, retrognatismo e ausência do sulco nasolabial.

5 a 10% das crianças brasileiras apresentam alguma alteração de desenvolvimento apesar de não serem diagnosticadas com a síndrome. O grupo de crianças que são acometidas por formas mais brandas dessa síndrome pode apresentar transtornos consideráveis no seu desenvolvimento neuro-cognitivo que podem dificultar sua inserção e permanência em grupos sociais.

“Apesar desta síndrome já apresentar altas taxas de incidência, acredita-se que haja uma subnotificação, visto que esses dados são feitos a partir de trabalhos pontuais e em determinados hospitais. Existe uma grande probabilidade de que haja uma maior incidência da síndrome na população, já que muitos casos são diagnosticados ambulatorialmente e alguns deles demoram muitos anos para que sejam diagnosticados corretamente”, afirma o pediatra neonatologista Arnaldo Costa Bueno, professor convidado do curso de especialização em Pediatria da PUC-Rio.

Quando a mãe ingere álcool durante a gravidez, toda a quantidade da substância ingerida é passada diretamente para o feto, que não metaboliza o álcool como os adultos e, consequentemente, permanece mais tempo no organismo do feto. Durante o desenvolvimento do feto, principalmente nos primeiros meses de gravidez, há uma grande proliferação celular e formação de neurônios. O álcool na corrente sanguínea da mãe atravessa facilmente a placenta, altera o fluxo sanguíneo, diminui o oxigênio, os nutrientes e altera os hormônios que chegam ao feto, podendo causar aborto ou microcefalia.

Segundo o professor Arnaldo Bueno, é de suma importância o desenvolvimento de programas de prevenção baseados na informação, educação e conscientização voltados para as mães que possuem vícios alcoólicos. “A orientação durante o pré-natal é de extrema importância para diminuir as futuras consequências à criança. A participação em palestras e grupos de ajuda servem para auxiliar a mulher a diminuir o vício alcoólico pelo menos durante o período gestacional e de amamentação”, orienta o especialista.