Câncer de próstata é o segundo que mais mata no Brasil
por Ana Luísa Nunes
O surgimento de 68.900 novos casos de câncer de próstata é a estimativa do Instituto Nacional do Câncer para 2014. Se diagnosticado precocemente, as chances de cura podem atingir 90%, entretanto a taxa de mortalidade cresceu 95,48% no período de 1979 a 2004. O câncer de próstata Ai?? o sexto mais comum no mundo e o prevalente entre os homens. No Brasil, sua incidência no sexo masculino está atrás apenas do câncer de pele não-melanoma.
A resistência masculina em realizar o acompanhamento médico está diminuindo progressivamente. No entanto, ela ainda persiste e pode impedir a detecção precoce do câncer, que caso ocorra tardiamente, provoca a redução das chances de cura para um percentual entre 10 e 20%. Atualmente, apenas 7% dos casos são descobertos em estágio inicial.
Apesar de considerada uma patologia da terceira idade, já que a maioria dos casos ocorre a partir dos 65 anos, a recomendação médica é que a prevenção seja feita a partir dos 45 anos por meio do exame sanguíneo de PSA e do toque retal. Em casos específicos, a prevenção deve começar a partir dos 40: "Pessoas de etnia negra e aqueles com histórico familiar de câncer de próstata são os grupos que apresentam maiores fatores de risco", alerta o Prof. Ronaldo Damião, coordenador do curso de Urologia da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio.
Segundo parte da comunidade médica, o PSA seria mais prejudicial à saúde do que benéfico. O Prof. Damião desmente essa crença e justifica: "O PSA não faz mal à saúde, porém, por se tratar de um exame de rastreamento, aumentou significativamente o risco de detecção de tumores que não evoluem. Dessa forma, muitas pessoas são submetidas a biópsias de próstata e tratamentos sem que haja certeza do real benefício dessas medidas na sobrevida dos pacientes. As complicações advindas do tratamento podem afetar significativamente a qualidade de vida desses homens".
A conduta médica está cada vez mais criteriosa em relação à decisão pelo tratamento, buscando ao máximo evitar procedimentos invasivos ou minimizar seus efeitos. "O critério mais importante é a expectativa de vida do paciente e a relação custo-benefício da intervenção. Dependerá ainda do estadiamento inicial da doença e da performance status do paciente", esclarece o Prof. Damião.
O estadiamento inicial da doença indica o grau de agressividade e pode classificá-la como localizada, localmente avançada ou metastática. Não há um tempo determinado para a sua progressão. Nos casos de baixo risco pode levar mais de uma década, enquanto nos mais agressivos, a propagação pode ocorrer em poucos anos, ou até meses. Nos casos localizados, indica-se o tratamento curativo isolado de prostatectomia radical ou de radioterapia, cujos efeitos colaterais são incontinência urinária, disfunção erétil, cistite e retite actínica. Quando a doença é localmente avançada, o tratamento é baseado na associação de bloqueio hormonal a radioterapia. O bloqueio hormonal pode provocar consequências como perda da libido, disfunção erétil, displidemia, anemia e osteoporose. Já no estágio metastático, o tratamento de primeira linha consiste no bloqueio androgênico.
Outros fatores para mensurar a agressividade são o grau de displasia do tumor (grau de Gleason) e a velocidade de elevação do PSA. O câncer de próstata é assintomático, portanto, só haverá manifestação de indícios nos casos já avançados, principalmente por meio de dor, que indica metástase óssea, e avanço local da doença com comprometimento do trígono e obstrução urinária.
Se apresentar um quadro de baixo risco, o paciente pode ser encaminhado para a vigilância ativa. Esse procedimento tem como finalidade retardar um tratamento curativo ou, não havendo progressão, evitar tratamentos desnecessários. No entanto, para que essa recomendação seja viável, a doença deverá preencher uma série de critérios previamente estabelecidos. O tratamento curativo deverá ser instituído se houver progressão nesses critérios; e o acompanhamento destes pacientes é feito por meio de exames de toque retal, PSA e biópsias prostáticas programadas.
A taxa de incidência do câncer de próstata é maior em países desenvolvidos do que nos países em desenvolvimento. Essa diferença ocorre devido à associação de dois fatores: a expectativa de vida mais avançada da população nos países desenvolvidos e a eficácia das políticas de saúde preventiva, o que resulta em um maior índice de diagnósticos. A falta de dados decorrente das condições médicas precárias em diversos países em desenvolvimento leva a crer que a taxa de incidência do câncer de próstata é ainda maior do que o estimado.