Vício em açúcar: será mesmo um problema comportamental?

por Rodrigo Yacoub

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Que o açúcar vicia, todos já sabem. Os dados foram levantados e comprovados por inúmeras pesquisas ao redor do mundo. Um dos estudos mais contundentes foi feito pela Psicologia da Connecticut College, nos Estados Unidos, em que alunos e professores provaram que biscoitos recheados, como o Oreo – em que o açúcar refinado é o principal ingrediente da composição – podem viciar tanto quanto ou até mais que a cocaína. Mas por quê? A resposta é simples: os neurônios ativados pelo açúcar são os mesmos que os entorpecentes.

De acordo com um projeto em vídeo da Universidade da Califórnia chamado The Skinny on Obesity; Episode 4: Sugar – A Sweet Addiction, o problema pode ser dividido em dois: o mal funcionamento da leptina, sistema regulador da fome e da saciedade, e o que o endocrinologista infantil Robert Lustig chama de sistema de recompensas, relacionado a sensação de prazer que a comida provoca no cérebro. A leptina é o hormônio que regula a fome e consequentemente a sensação de saciedade. Apesar de ter funcionado corretamente por mais de 50.000 anos, há 30 anos este hormônio entrou em falência, não conseguindo mais exercer sua função no organismo humano – cada vez mais pessoas param de comer por necessidade, ignorando os sinais do corpo e ultrapassando a fome. Comer apenas por prazer é o que causou uma das doenças que mais afetam pessoas no mundo inteiro: a obesidade, em que o açúcar tem papel fundamental.

O prazer buscado na comida é a segunda parte do problema. O açúcar ativa os neurônios do Centro de Recompensas no cérebro, conhecido cientificamente como Nucleus Accumbens, que controla o funcionamento da dopamina – neurotransmissor responsável pela sensação de prazer. Esse estímulo é ativado repetidamente com a entrada do açúcar no organismo, o que resulta na diminuição da eficiência dos receptores do sinal da dopamina, os desregulando. Esse processo ocorre, em média, em três semanas de ingestão constante e em excesso do açúcar, tempo necessário para se criar o vício.

O vídeo ainda aponta que o efeito da comida em pessoas que sofrem de obesidade é diferente do efeito em pessoas saudáveis. Quando em contato com comida palatável, o Centro de Recompensas ativa duas partes diferentes – a parte do querer e a do gostar. Enquanto a parte do querer se torna fortalecida, a parte do gostar está enfraquecida, o que torna a busca insaciável – é um desejo que nunca poderá ser satisfeito.

Apesar de ser constantemente considerado um problema comportamental na sociedade, Dr. Lustig diz que a chave para entender e tratar essa dependência é o funcionamento bioquímico do corpo.