Pernilongo doméstico pode transmitir o vírus da Zika

por Clara Pires

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Pesquisadores da Fiocruz Pernambuco anunciaram descoberta inédita de que o pernilongo doméstico, chamado de Culex quinquefasciatus, também pode transmitir o vírus que causa microcefalia e malformações em bebês. No entanto, até que se consiga entender a importância dele na epidemia, a política de controle da Zika continuará focada no Aedes aegypti. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores fizeram um estudo com mais de 500 mosquitos capturados em locais notificados com Zika em Recife. O teste deu certo e mostrou a possibilidade de se encontrar o vírus na natureza.

Segundo Constância Ayres, bióloga chefe do estudo, em três dos 80 grupos em que os mosquitos foram separados, o vírus foi encontrado. Em dois grupos, eles não estavam alimentados. Isso demonstrou que “o vírus estava disseminado no organismo do inseto e não foi contraído em uma alimentação recente num hospedeiro infectado”, explica a bióloga. No laboratório, a equipe da Fundação Oswaldo Cruz confirmou a replicação do vírus, concluindo que o mosquito o leva no organismo. O Culex quinquefasciatus tinha quantidade bastante semelhante do vírus observada no Aedes aegypti.

Segundo Ayres, saber da existência do vírus no pernilongo contribui para que os pesquisadores deem um salto no conhecimento sobre a doença, mudando a estratégia de prevenção. Até então, cientistas acreditavam que o mosquito Aedes aegypti era o principal vetor do vírus no Brasil. Agora, eles precisam determinar qual das duas espécies é a mais importante na epidemia. "Não existem estratégias de controle do Culex no Brasil. Isso vai ter de mudar radicalmente, e é por isso que as autoridades exigem muita cautela e mais comprovação. É natural que seja assim", disse a bióloga.

O pernilongo tem hábitos diferentes do Aedes aegypti. Ele é mais ativo à noite e prefere colocar seus ovos em locais extremamente poluídos como esgotos e fossas o que, para a pesquisadora, tornaria as medidas de saneamento básico ainda mais importantes para evitar novos casos da doença em bairros mais precários. “O saneamento básico não erradicará o mosquito, mas vai ajudar no seu controle populacional. As medidas de saneamento ajudam a manter o mosquito em um nível no qual não teremos grande epidemia, apenas casos esporádicos”, explicou ela.

Segundo a Fiocruz, o Culex quinquefasciatus está presente em todas as áreas urbanas de países do Norte da Europa, Canadá e Austrália. Já o Aedes aegypti fica restrito às regiões tropicais e subtropicais. No entanto, os pesquisadores afirmam que a descoberta do pernilongo como vetor de transmissão do Zika aqui no Brasil não significa que o mesmo ocorreria em outros países do mundo. "Existe essa possibilidade, mas cada população deve ser investigada, principalmente porque o Culex quinquefasciatus, que é o que temos no Brasil, é parte de um complexo de espécies", finalizou Ayres.