África do Sul abre uma nova era para o combate ao HIV

por Clara Pires

A África do Sul recebeu entre os dias 18 e 22 de julho a Conferência Internacional sobre a AIDS. É a segunda vez que o país sediou a conferência, a primeira 16 anos atrás. No entanto, o panorama é diferente. Agora, metade de sua população com HIV recebe terapia e devido a essa expansão no acesso, a expectativa de vida ao nascer no país cresceu mais de nove anos. Após desenvolverem o maior programa de terapia antirretroviral (ARVs) do mundo, os cientistas estão explorando as consequências a longo termo da droga.

Segundo Steffanie Strathdee, diretora associada do Departamento de Ciências Globais de Saúde da Universidade de São Diego, nos Estados Unidos, as mudanças que ocorreram na África do Sul nos últimos anos “são uma realização milagrosa que mostra ao mundo o que pode ser feito no combate ao vírus”.

Mas apesar dessas conquistas, o desafio continua. O país africano é o local que possui a maior concentração do vírus no mundo. Ele tem sido esse campo de testes para conferir se a terapia antirretroviral pode ser implantada em países em desenvolvimento e o que acontece com a população desses locais quando elas são introduzidas.

Para os médicos e pesquisadores, o tempo de uso da terapia antirretroviral é um quebra-cabeça que só está começando a ser melhor entendido agora. Através de estudos, eles têm avaliado de que forma a exposição a longo prazo às drogas e ao próprio HIV pode afetar a saúde do portador, focando ou em pessoas que atingem a meia-idade depois de décadas de tratamento ou então de que forma crianças que foram expostas ao HIV e ao ARVs no útero podem enfrentar problemas de saúde mesmo sem contrair o vírus.

“O sucesso da África do Sul em derrotar a AIDS é a chave para o aprimoramento do esforço global para acabar com a doença”, diz Salim Abdool Karim, diretor do Centro de Programas e Pesquisa sobre a AIDS em Durban e palestrante na conferência.

Deenan Pillay, virologista e diretor do Centro Wellcome-Trust para a Saúde da População na África, acredita que o principal problema relacionado ao vírus no continente é o controle de sua resistência nas pessoas contaminadas e a certeza ou não de que o tratamento funciona. “As pessoas pensam que a reação aos medicamentos não é mais um problema. Mas o lugar onde a resistência vai emergir mais uma vez é aqui. Você não pode jogar um tanto de drogas lá fora, sem experimentá-las.”

Hoje no mundo existem cerca de 38,8 milhões de pessoas vivendo com HIV, com um aumento de 2,5 milhões por ano. É uma queda em comparação com os últimos dez anos, em que 3,3 milhões eram contaminadas por ano. Mesmo assim, pesquisadores alertam para a importância nos esforços internacionais referentes a programas de tratamento da doença e a continuidade dos estudos de prevenção, pois caso o número volte a crescer, a epidemia pode se tornar impossível de controlar.