Gene pode ajudar na sociabilidade humana e no tratamento do autismo

por Clara Pires

Uma pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia, em São Diego, em parceria com o Instituto Salk de Estudos Biológicos, analisou os genes causadores da síndrome de Williams - condição rara que deixa o portador com predisposição a ser hipersocial - e descobriu que eles podem ajudar na sociabilidade dos seres humanos.

Para entender melhor a condição, os pesquisadores criaram uma espécie de modelo sobre como ela se desenvolve, focando em um gene específico que causaria a doença, o FZD9. A falta de uma das cópias desse gene causa mudanças estruturais nas células nervosas. Neles, os dendritos são mais ramificados, possibilitando maior contato entre as sinapses, ou seja, maior conexão entre os neurônios. Isso pode ser um dos motivos que explicam a extrema sociabilidade de seus portadores.

A síndrome afeta uma a cada 10 mil pessoas no mundo. Quem apresenta a condição sofre com problemas cardíacos, dentários e ortopédicos e possuem características físicas bastante marcantes, como nariz pontudo, boca larga e/ou carnuda, queixo fino e rosto pequeno. Além disso, apresentam algumas questões comportamentais como maior sensibilidade e qualidade na linguagem e facilidade em despertar atenção.

Para o brasileiro Alysson Muotri, principal autor do estudo, a doença é bastante intrigante a partir do ponto de vista médico. “Fiquei fascinado como um defeito genético, uma pequena deleção em um dos nossos cromossomos, pode nos fazer mais amigáveis, mais compreensivos e mais capazes de abraçar as nossas diferenças”.

Muotri pretende usar o estudo sobre Williams no seu campo de pesquisa usual, o autismo. De acordo com o pesquisador, estudar a síndrome pode ajudar a explicar como um ser humano pode ser social e assim contribuir para a evolução da humanidade. “Foi nosso poder de sociabilidade que nos fez uma espécie de colaboração. Capazes de transformar de forma dramática o nosso meio ambiente por meio da criação de poesia, música e tecnologia”.

Há alguns anos, o cientista e sua equipe criaram modelos in vitro de células com características genéticas do autismo, usando células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs) de dentes de crianças com a doença. Nessa pesquisa sobre a síndrome de Williams, o mesmo processo foi feito.

"Os neurônios fazem mais sinapses ou conexões com outros neurônios do que geralmente é esperado", disse Muotri. "Isso pode estar por trás do aspecto super-social da síndrome e de seu cérebro humano agregador, dando ‘insights’ sobre o autismo e outras desordens que afetam lado social do cérebro”.

O médico espera que esses insights consigam ajudá-lo a olhar o autismo com outra perspectiva, de forma a conseguir melhorar mais o jeito com que responsáveis, familiares e profissionais da área de saúde e de ensino lidam com quem possui o transtorno.