A nadadora olímpica que salvou vidas
por Clara Pires
A Olimpíada Rio 2016, que aconteceu na capital carioca entre os dias 05 e 21 de agosto, foi um momento de celebração do esporte e da propagação de seus valores – amizade, excelência e respeito. Para participar do evento, mais de 200 países enviaram atletas para competir em 39 modalidades diferentes.
Uma novidade dessa edição, a primeira na América do Sul, foi a criação de um Time Olímpico de Refugiados pelo Comitê Olímpico Internacional, visando a proteção de potenciais atletas de elite afetados pela crise mundial dos refugiados. Sob essa bandeira, dez atletas puderam participar dos Jogos. Entre tantas histórias de superação, treinamento e realização de sonhos, algumas se destacaram: a da nadadora Yusra Mardini, de 16 anos, é uma dessas.
A adolescente síria competiu nas eliminatórias dos 100 metros nado livre e dos 100 metros borboleta. Embora não tenha conseguido se classificar para as semifinais e finais das provas, ela chegou em primeiro lugar nas baterias em que participou e sua presença se tornou história.
Sobre sua participação nas Olimpíadas, a esportista afirmou que foi um sonho e que ela utiliza suas dificuldades como motivação para o futuro. “Quando você tem um problema na vida, não significa que tem que sentar e chorar como um bebê. O meu problema é a razão de eu conseguir estar aqui, e também o porquê de eu conseguir ser tão forte para lutar pelos meus objetivos”.
Para participar do evento, a trajetória não foi fácil. Mardini começou sua carreira ainda criança treinando na capital Damasco com o apoio do Comitê Olímpico Sírio. Tudo mudou quando, em 2015, a casa da família foi bombardeada durante a Guerra Civil do país. Em agosto do mesmo ano, ela e a irmã decidiram fugir. Chegaram ao Líbano e depois à Turquia. De lá, pegaram um bote para a Grécia com outros 18 refugiados, mesmo que a capacidade máxima fosse de apenas oito pessoas.
A situação se complicou mais ainda quando o motor parou de funcionar e o bote começou a encher d’água. Como a adolescente e sua irmã, Sarah, eram as únicas que sabiam nadar, empurraram a embarcação por mais de três horas até chegar à Ilha de Lesbos.
Uma das razões que explicam como as irmãs conseguiram nadar por tanto tempo carregando um barco em um mar com baixa temperatura, é a forma com que o corpo humano reage automaticamente em situações de risco, possibilitando que a pessoa que se encontra em perigo consiga se salvar. Segundo especialistas, isso acontece devido a ativação do eixo hipotálamo, glândulas suprarrenais e hipófase. Ele libera o hormônio cortisol que aumenta a pressão arterial, a frequência cardiorrespiratória, a quantidade de açúcar no sangue e fortalece o sistema imunológico.
O sistema imunológico promove a liberação de adrenalina e noradrenalina e faz com que a percepção de dor se reduza consideravelmente. É a forma com que o organismo encontra para se “reprogramar”, intensificando processos mais ligados à sobrevivência.
Agora, Yusra Mardini vai voltar para Berlim, para onde se mudou em definitivo, e planeja continuar treinando para conseguir melhores resultados nos próximos Jogos, em Tóquio.