Cérebro e o mecanismo para lidar com dificuldades

por Rodrigo B Yacoub

dt_140515_hippocampus_brain_800x6001-300x225.jpg

Todos nós estamos sujeitos a sofrer por estresse. Para lidar com essa situação, muitas pessoas fazem mudanças em seu comportamento usual; alguns ficam mais em casa, outros resolvem sair mais, e até os hábitos alimentares sofrem com tais alterações. Mas essas mudanças não são apenas externas; elas podem levar a uma modificação neurológica.

Um novo estudo publicado no Journal of Neuroscience, feito por pesquisadores de grandes universidades americanas, incluindo a University of Rockefeller e a New York University, descobriu que o cérebro, ao enfrentar situações de estresse, deixa de produzir neurônios – fenômeno conhecido como neurogênese.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores tentaram reproduzir o estresse vivenciado pelos humanos em ratos adultos, mudando a forma como eles se organizam socialmente. Assim, puderam notar que menos neurônios foram produzidos no hipocampo - parte do cérebro responsável por certos tipos de memória e pela regulação do estresse. Também, do ponto de vista comportamental, os ratos que apresentaram menor neurogênese, ou seja, continuaram com níveis estáveis de produção de neurônios, favoreceram a convivência com ratos conhecidos e se afastaram dos desconhecidos. 

A pesquisa – uma descoberta na área – interferiu na estrutura social de ratos e não em seus organismos, como normalmente. Eles vivem em sociedades estruturadas que contêm um único macho dominante. O que os investigadores fizeram foi colocar os animais em diferentes grupos, de modo a alterar sua configuração. Por exemplo, em vez de um macho dominante, foram formados grupos com quatro machos e duas fêmeas. Isso causou uma ruptura na organização social das cobaias.

Segundo Maya Opendak, primeira autora do estudo e pesquisadora da New York University, os ratos de hierarquias interrompidas exibiram a sua preferência por companheiros familiares seis semanas após esses tempos turbulentos, durante os quais a neurogênese diminuiu 50%. Constataram também que os poucos neurônios gerados durante o período de instabilidade levaram de quatro a seis semanas para serem incorporados a região do hipocampo.

A pesquisa é uma das primeiras a mostrar que a falta da neurogênese adulta tem papel ativo na formação do comportamento social e de adaptação, de acordo com Opendak. “A preferência em conviver com ratos familiares pode ser um comportamento adaptativo desencadeado pela redução da produção de neurônios”, explica a doutora que complemente: “neurônios nascidos na fase adulta são uma resposta à novidade social”.

Bruce McEwen, professor de neuroendocrinologia da Universidade Rockefeller e um dos coautores do estudo, disse que a pesquisa é um grande passo para explorar o papel de parte do hipocampo no comportamento social e na eficácia de tratamentos que podem combater situações de estresse, como a depressão. 

A depressão se torna assunto chave da questão porque o retraimento visto nos animais é aspecto fundamental da doença em seres humanos. Para McEwen, essa comparação se torna possível porque o hipocampo visual, a área ativada no cérebro dos roedores, é semelhante à região conhecida como hipocampo anterior em humanos. 

Apesar de ser uma novidade no campo, o professor adverte: como os testes só foram feitos em animais, não é possível prever os efeitos no ser humano. Mais testes clínicos, com humanos dessa vez, serão necessários para se chegar à uma conclusão.