Os prejuízos do cigarro eletrônico à saúde

“Pulmão de pipoca”, hemorragia alveolar e pneumonias: saiba como o cigarro eletrônico tem prejudicado a saúde de seus usuários.

Por Nicole Rangel Correia

De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de Pelotas, 1 a cada 5 jovens brasileiros consome cigarros eletrônicos.

"Os boatos de que cigarros eletrônicos são menos nocivos que os convencionais são mentirosos”, afirma o Professor Edson Marchiori, radiologista especialista em radiologia torácica.

Os cigarros eletrônicos (também conhecidos como vape, pod, e-cigarros, dentre outros) são dispositivos em que seus usuários inalam aerossóis gerados a partir do aquecimento de um líquido interno, podendo conter diferentes substâncias em sua composição. Atualmente, o vaping (ato de fumar vape) tem sido tendência entre os mais jovens em diversos países.

O professor da UFRJ ministra sessões clínicas semanais pela Sociedade de Radiologia do Rio de Janeiro e apresenta seus conhecimentos com muitos exemplos de casos clínicos, além da participação de outros profissionais da área, como pneumologistas, por exemplo. No início do ano Marchiori fez uma sessão exclusiva destinada ao assunto com o título “Inalação recreacional de substâncias tóxicas” os efeitos do cigarro eletrônico. (Para assistir a sessão completa, clique em cima do título da sessão).

Alguns tentam colocar o cigarro eletrônico como uma coisa meio inócua, que não causaria grandes problemas, mas isso não é verdade.
— Professor Edson Marchiori

A nicotina, que pode estar presente em diferentes níveis nesses cigarros, torna suas emissões prejudiciais tanto para o usuário (porque causa dependência e afeta o desenvolvimento cerebral), quanto para os que estão por perto e se expõem à fumaça (porque também inalam a substância). Outras diversas substâncias tóxicas podem estar presentes nos vapes. Segundo o professor Marchiori, na composição do e-cigarro podem estar presentes diferentes substâncias, entre elas: THC ou canabidiol, elementos metálicos (saborizadores), toxinas bacterianas e compostos fúngicos, todos prejudiciais à saúde. 

Diferentes tipos de pneumonias (em organização, por hipersensibilidade, lipoídica, eosinofílica aguda e intersticial por células gigantes) além de dano alveolar difuso e hemorragia alveolar são apontadas pelo professor como as principais doenças causadas pelo uso desses dispositivos. 

Os efeitos a longo prazo do vaping ainda são desconhecidos (visto ser um produto ainda recente entre seus consumidores e para o mundo científico), o que torna seu consumo ainda mais arriscado e perigoso.  Apesar disso, os casos clínicos atuais de pessoas que utilizaram cigarros eletrônicos já evidenciam provas suficientes para atestar seu papel maléfico ao bem-estar. Durante a sessão, foram apresentados diversos exemplos de pessoas que tiveram seus pulmões prejudicados pelo vaping. Dentre eles, uma mulher de 35 anos que fumou cigarro eletrônico com maconha. Em sua radiografia, os pulmões estavam lesionados de diversas formas (derrame pleural bilateral, “vidro fosco”, etc). Duas semanas depois, os órgãos respiratórios já estavam totalmente consolidados e com pneumotórax. A paciente faleceu 5 dias após realizar o último exame.

O vaping também pode causar o chamado “pulmão de pipoca”, uma condição rara causada por uma droga específica, o diacetil, aromatizador artificial de manteiga para pipoca que também está presente na composição de alguns e-cigarros. A inalação da fumaça dessa substância causa bronquiolite obliterante em seus usuários. Segundo Marchiori, os trabalhadores de indústrias de pipocas, biscoitos e semelhantes e os consumidores frequentes de pipoca de microondas também precisam se atentar em relação à condição. 

Inúmeros vapes foram vendidos com a promessa de serem eficazes em auxiliar no fim do tabagismo, mas tal constatação nunca foi comprovada cientificamente.

Informações importantes sobre o cigarro eletrônico

Confira abaixo perguntas e respostas sobre o vape.


Qual a diferença do “vape” para o cigarro convencional?

Em termos gerais, quem é usuário de vape inala vapor (algum líquido vaporizado) e não fumaça (alguma substância que pode ser uma combinação de sólidos, líquidos e gases submetida à combustão). Além disso, o cigarro eletrônico não possui alcatrão (um composto de mais de 4 mil substâncias) em sua composição, diferente do convencional. Por outro lado, suas semelhanças são inúmeras: os dois geram dependência e fumantes passivos, os dois causam diversas doenças e os dois podem levar à morte.


Esses cigarros são proibidos no Brasil?

Sim, a comercialização e uso dos cigarros eletrônicos é ilegal no Brasil. Segundo dados divulgados pela Agência Brasil, essa proibição foi determinada pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) número 46/2009 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão que manteve a regra em julho de 2022.


Afinal, vape é tão ruim assim?

Os cigarros eletrônicos podem ser apelativos, coloridos e atraentes, mas não resta dúvida de que esses dispositivos são extremamente prejudiciais à saúde, já que sua composição é tóxica ao organismo e também gera dependência em seus usuários. Tanto o cigarro convencional, quanto o eletrônico apresentam diversos riscos para a saúde e bem-estar de quem os consome. A recomendação a se seguir é não usar nenhum deles em hipótese alguma! Portanto, sim, o cigarro eletrônico faz mesmo mal à saúde, podendo ter efeitos ainda mais graves que o cigarro comum no organismo de seus usuários. Com ou sem fumaça, fumar é comprovadamente um ato danoso ao corpo humano. 


Para assistir à palestra do professor Edson Marchiori na íntegra, clique aqui.