Alcoolismo mata mais que Aids

Sergio Schargel

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O alcoolismo é responsável por cerca de 4% de todas as mortes do mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Este número fica ainda maior entre pessoas na faixa etária de 25 a 39 anos, constituindo 9% das mortes e sendo mais fatal que a Aids ou a tuberculose. Considerado pela OMS como uma doença grave e sem cura, o alcoolismo pode ser influenciado por diversos fatores, entre eles depressão, ambiente social e saúde mental. Esta doença normalmente é diagnosticada quando uma pessoa transcende o consumo alcoólico denominado social e não consegue mais parar de beber, se tornando um vício e prejudicando outras esferas de sua vida.

O abuso da substância pode provocar lesões em alguns dos órgãos mais importantes do corpo, como o cérebro, rins ou o coração. Além disso, pode provocar alterações neurais que têm por consequência uma elevação na resistência do usuário à substância e uma síndrome de abstinência, gerando um ciclo vicioso, já que uma maior resistência tende a levar a um maior exagero.

O álcool é uma droga socialmente aceita no Brasil e o resultado é que cerca de 36,3% dos homens e 13% das mulheres bebem ao menos uma vez por semana no país, segundo dados do IBGE. Curiosamente, cerca de 30% das pessoas com curso superior completo consomem álcool semanalmente, um número maior do que o de outras esferas sociais, o que, segundo Maria Lucia Vieira, uma das coordenadoras da pesquisa do IBGE, “pode ter a ver com a renda”. A OMS também alerta que o álcool prejudica não apenas aqueles que consomem, mas também quem está ao seu redor, como familiares e amigos.

O alcoólatra, na maioria das vezes, costuma se recusar a aceitar a sua doença. Para o usuário ser considerado um alcoólatra, ele deve ter alguns dos sintomas, como compulsão pela substância (abstinência), caso seja privado dela, e dificuldades em controlar o nível do consumo. O aumento na tolerância e o abandono de outras atividades em prol do álcool também são fortes indícios de que a pessoa está viciada.

Os tratamentos dependem da adesão do paciente, o que dificulta o processo. Se ele não se comprometer, não conseguirá se tratar. Existem remédios que, embora não resolvam o problema, ajudam na crise de abstinência diminuindo a vontade de consumir a substância. Grupos de autoajuda (como o famoso Alcoólatras Anônimos) contribuem para o sucesso dos tratamentos, dando apoio psicológico, de forma a ajudar a manter a pessoa sóbria e usar o suporte social para impedir possíveis recaídas. Uma forma muito usada para diminuir a necessidade que o usuário sente é tentar substituir as atividades degradantes para o organismo por atividades saudáveis como artes e esportes, além de incentivar o convívio social sem o consumo de álcool.

Porém, o alcoólatra não enfrenta só os problemas físicos e psicológicos da sua condição e muitas vezes tem que lidar com mais um problema: o preconceito. Muitas esferas da sociedade consideram alcoólatras pessoas menores, incapazes de se controlar, “fracos”. Um preconceito semelhante ao que acontece com pessoas obesas, sendo comum que sejam consideradas tristes, solitárias e sem autocontrole. Entretanto, a sociedade tem forte poder de influência no início do consumo da substância, pois incentiva as pessoas a começarem a beber quando são menores, permitindo que experimentem um copo de cerveja ou outras bebidas. É muito comum, por exemplo, que grupos de amigos excluam colegas que não bebem, considerando-os “chatos”.

O consumo de álcool tem começado cada vez mais cedo e aumentou muito entre os jovens. Por ser uma droga socialmente aceita e incentivada, muitos jovens o consomem para socializar ou interagir entre si, às vezes de forma abusiva, sem se dar conta ou ignorando as consequências. Em ambientes universitários, por exemplo, é comum competições envolvendo o consumo da maior quantidade de bebida no menor tempo possível, o que pode levar a uma fatalidade.

Em fevereiro de 2017, um jovem de 23 anos morreu na República Dominicana após beber uma garrafa inteira de tequila sozinho de uma só vez durante uma aposta entre jovens em uma boate. Em novembro de 2014, uma jovem de apenas 18 anos morreu após beber algumas doses de uma vodka polonesa que tem 95% de teor alcoólico. Em fevereiro de 2015 foi a vez de um brasileiro; um jovem universitário de 23 anos morreu em uma festa da Unesp após beber cerca de 30 doses de vodka. Essas fatalidades, longe de serem únicas, retratam os riscos do abuso alcoólico, frequentemente ignorado ou esquecido em prol da diversão e sociabilidade em ambientes jovens.