Infertilidade: causas e tratamentos
por Ana Luísa Nunes
Aproximadamente 20% dos casais em idade reprodutiva têm dificuldade para engravidar. Uma grande parte pode se deparar com problemas apenas quando iniciarem as tentativas de ter um bebê. Entre casais jovens em período fértil, a gestação ocorre de 15 a 20% das vezes. Portanto, se após um ano mantendo relações sexuais frequentes sem utilizar métodos contraceptivos o casal não obtiver uma gestação, é recomendável procurar auxílio médico.
Mas como saber se há um problema? De acordo com o Prof. Marcelo Lemgruber, coordenador do curso de especialização em Ginecologia da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, se a mulher apresenta sinais que indiquem distúrbios hormonais como excesso de pelos e menstruação irregular, sente cólicas, dor nas relações sexuais ou tem no seu histórico ginecológico doenças como endometriose, é provável que tenha dificuldades para engravidar. No homem, problemas prévios como caxumba com inflamação nos testículos, alterações anatômicas ou varicocele (varizes nos testículos) podem comprometer a fertilidade.
Se o casal apresenta fatores normais, é feita uma série de exames para investigar a infertilidade. Para o homem é recomendado o espermograma, que visa analisar as condições físico-químicas do sêmen e a qualidade dos espermatozoides. Para a mulher, os principais exames são a histerossalpingografia, um raio-x contrastado cujo objetivo é avaliar as condições das trompas e da cavidade uterina; a videohisteroscopia, um exame endoscópico da cavidade uterina; dosagens hormonais e ultrassom transvaginal seriado para medir a reserva ovariana e controlar a ovulação. Outros exames mais específicos podem ser indicados de acordo com os resultados, assim como tratamentos por meio de medicamentos ou cirurgias para cada condição.
A idade das mulheres ainda é um dos fatores mais importantes para prognósticos, alerta o Prof. Lemgruber. A perda da qualidade dos óvulos que ocorre com o envelhecimento provoca a diminuição das chances de gravidez, bem como aumenta a chance de gerar crianças com alguma deficiência. Grávidas a partir dos 35 anos têm mais chances de ter complicações gestacionais ou desenvolver doenças como diabetes. Para mulheres de 35 a 40 anos que pretendem engravidar, recomenda-se que o tempo de tentativa sem buscar auxílio médico seja de seis meses em vez de um ano, e acima de 40 anos é recomendável procurar assistência médica imediatamente. "A partir dos 30 anos, é necessário que o ginecologista comece a conversar com a paciente sobre a possibilidade de ter filhos", ressalta Lemgruber.
Em 30% dos casos, a dificuldade para gerar um bebê decorre exclusivamente de problemas masculinos, e em 30% exclusivamente de problemas femininos. Em 40% a dificuldade resulta de uma combinação de problemas de ambos, e em 10% dos casos não se descobre uma causa específica. São os casos de ISCA (infertilidade sem causa aparente). O fator emocional tem grande influência nesses casos, quando há ansiedade e pressão por parte do casal, da família ou da sociedade. É válido tentar medidas naturais antes de partir para um tratamento médico, como o coito programado, quando o casal acompanha a ovulação por meio de exames e se programa para ter relações sexuais no período fértil. A ovulação pode ser induzida por medicamentos ou não.
Vale ressaltar que o uso de métodos contraceptivos hormonais e intrauterinos por longo tempo não dificulta uma gravidez posterior. "Muitas vezes, mulheres que fizeram uso prolongado desses métodos, ao desejarem ter filhos e iniciarem as tentativas, podem se deparar com problemas já existentes que nunca foram descobertos ou que se desenvolveram, mas não têm nenhuma relação com o anticoncepcional", esclarece o Prof. Lemgruber.
De acordo com o diagnóstico dos exames ou após longo tempo de tentativas sem sucesso podem ser recomendados tratamentos de reprodução assistida. Na inseminação intrauterina, o material masculino é colhido, preparado e enriquecido em laboratório. A ovulação é estimulada e os espermatozoides são implantados no útero por cateter. O objetivo dessa técnica é promover o encontro das células reprodutoras masculinas com o óvulo, seja driblando problemas no aparelho reprodutor da mulher, seja melhorando a qualidade e a agilidade dos próprios espermatozoides. Para aumentar a chance de o embrião se manter fixo no útero materno, a mulher recebe doses de progesterona durante os primeiros meses da gravidez. Essa técnica é recomendada a casais sem grandes alterações aparentes e aos com problemas de ovulação ou baixa quantidade de espermatozoide. Em casais jovens, as chances de sucesso variam de 15 a 20%.
Na fertilização in vitro, a ovulação é estimulada e acompanhada por ultrassom. São coletados os óvulos e o material masculino, e a fecundação é feita em laboratório. Se for bem sucedida, o embrião é transferido para o útero. A técnica é indicada, por exemplo, para mulheres com problemas nas trompas, como sequelas de infecções ou endometriose, para pacientes que foram submetidas à ligadura ou em casos de aborto recorrente. As chances de sucesso em casais jovens são de 50%. Em mulheres acima de 35 a 40 anos, 35%, e acima de 40 anos, as chances caem para menos de 20%.
A injeção intracitoplasmática de espermatozoides funciona basicamente da mesma maneira que a fertilização in vitro. É indicado para homens que têm baixa quantidade ou não têm espermatozoides no esperma, apenas no testículo.
Medicamentos ou doenças e condições não relacionadas ao sistema reprodutor também podem interferir na fertilidade. Os tratamentos de câncer são os mais prejudiciais. A quimioterapia e a radioterapia podem levar à falência dos ovários e testículos. O Prof. Lemgruber explica que hoje há uma grande preocupação com a fertilidade dos jovens com câncer, pois os doentes sobrevivem e é necessário pensar na qualidade de vida que terão. Segundo ele, houve grandes avanços na criopreservação de sêmen e de embriões e, nos últimos cinco anos, de óvulos. No caso de crianças que ainda não atingiram a puberdade, há a possibilidade de criopreservação do tecido ovariano e do testicular.
Tabagismo, álcool, drogas e doenças como diabetes causam alterações vasculares que podem levar a abortos recorrentes, logo são fatores de diminuição da fertilidade. Questões imunológicas como alterações da tireoide e doenças autoimunes também são causas para dificuldades de ter um bebê.
Questões imunológicas como a hiper-reatividade fazem com que a mulher crie anticorpos contra o espermatozoide e o embrião, impossibilitando a fecundação ou causando aborto recorrente. Em casos como esse, é feita uma pesquisa sobre o perfil imunológico da paciente para decidir o melhor tratamento. Vacinas feitas a partir dos leucócitos paternos e aplicadas na mulher no período pré-gravidez e durante a gestação são uma solução eficaz. A exposição aos antígenos do pai bloqueia a resposta natural do organismo à presença do feto, possibilitando a continuidade da gestação e o desenvolvimento saudável do bebê.