Brilhante cirurgião vascular, Prof. Medina deixa muitos ensinamentos

por Ana Luisa Nunes

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"Ele era uma pessoa carismática, querida, agradável de conversar, de estar com ele", rememora o Prof. Hilton Koch, decano do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da PUC-RJ, sobre o Prof. Antônio Luiz de Medina, coordenador do curso de Cirurgia Vascular e Endovascular da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, que faleceu no dia 2 de Junho, aos 85 anos.

Medina era um dos mais reconhecidos cirurgiões vasculares do país. Nascido em Salvador, Bahia, em 1928, se formou em 1952 pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, atual UFRJ. Pretendia ser cirurgião pediátrico ou plástico, mas foi apresentado à Cirurgia Vascular na Santa Casa de Misericórdia do Rio pelo Dr. Paulo Samuel Santos, pioneiro na especialidade, e se encantou: "eu sempre gostei de coisa delicada".

Antônio Luiz de Medina se tornou membro da Academia Nacional de Medicina em 1988. Foi presidente da instituição entre 2005 e 2007, e presidiu também a seção de Cirurgia no biênio 1993-95. Ao longo de sua extensa carreira profissional, foi responsável pelo Departamento de Doenças Vasculares Periféricas do Hospital Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, de 1969 a 1970, e chefe do serviço de Angiologia do mesmo hospital, de 1961 a 1967. Também atuou em funções além da Medicina e da docência, como assessor especial de saúde da prefeitura do Rio de Janeiro de 1991 a 1992, e secretário de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, de 1995 a 1996.Ai?? Foi membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e "Fellow" do Colégio Americano de Cirurgiões, além de ter recebido o título de honorário fundador da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular: "agora me homenagearam com uma baita duma medalha", divertiu-se o professor durante entrevista dada para a equipe da EMPG.

Em 1979, a convite do Dr. Julio Polisuk, criou o curso de PA?s-Graduação em Cirurgia Vascular da PUC-Rio, o primeiro da especialidade no Brasil, do qual foi o único coordenador até hoje. Medina sempre se manteve atualizado com relação aos avanços tecnológicos da sua especialidade. Em 1992, quando já era um cirurgião vascular consagrado, foi feita a primeira cirurgia endovascular, por meio de cateteres. Ele então adaptou a ementa do curso para incluir o método cirúrgico em ascensão, hoje utilizado em 85% das operações vasculares. Moderou palestras do inventor da técnica, Dr. Juan Carlos Parodi e, recentemente, havia aceitado iniciar um curso de aperfeiçoamento em cirurgia endovascular.

O curso fundado por Medina já formou, até esse ano, 122 especialistas em Cirurgia Vascular. De acordo com a secretária da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, Ana Carla Barreto, o curso era muito procurado devido ao renome do cirurgião. Apesar da intensa demanda, o Prof. Medina era criterioso na aceitação de alunos, restringindo o número máximo por turma a 4 ou 5, em razão da sua preocupação em proporcionar uma formação completa aos pós-graduandos por meio da aprendizagem prática minuciosa da cirurgia. "Ele era um homem espetacular, muito acolhedor. Uma perda lastimável para todos, principalmente para a direção. Ele era um conselheiro para todos na Escola", observa Ana Carla.

Hilton Koch e Medina não conviveram profissionalmente no exercício da Medicina, devido às diferentes especialidades. Vieram a se encontrar nas reuniões formais da Escola Médica da PUC-Rio, e da admiração e respeito profissional surgiu uma afeição. Durante seu período na direção da Escola, o Prof. Koch pediu a Medina que integrasse o Conselho Geral de Administração, cargo que ele aceitou relutantemente. Apesar da certa contrariedade do cirurgião em exercer a função, o Prof. Koch ressalta a importância das contribuições de Medina: "é muito bom ouvir uma pessoa mais experiente. Ele era sempre solícito e tinha sempre opiniões coerentes e responsáveis, independentemente de concordarmos ou não".

As atitudes e a conduta de Medina contribuíram para elevar a estima mútua e estreitar o vínculo entre os dois médicos: "Ele era muito comprometido, presente, cordial, e demonstrava sempre entusiasmo com todas as conquistas e evoluções da Escola. Ele me ligava de vez em quando: estou ligando só pra saber como você está, apesar de a nossa relação ser profissional. Quantos amigos antigos que você não vê há um tempo fazem isso", relembra o Prof. Koch. E entre as memórias que guarda de Medina, destaca uma em especial: "As gravatas dele eram muito bonitas. Eu sempre gostei de gravatas, mas as dele eram imbatíveis".

Apesar da experiência e do reconhecimento, Antônio Luiz de Medina nunca quis assumir cargos e títulos burocráticos como diretor ou decano. Descrito pelos outros e por si próprio como um homem positivo, argumentava não ter tempo ou temperamento para se dedicar à exigências e à política de tais funções, dando preferência a empenhar-se no exercício da Medicina e da docência, as suas vocações: "Para ter título de diretor, você tem que saber ser diretor. E ter tempo para ser diretor. E eu não quis. Eu tinha muita clínica, muito movimento".

Quanto à sua carreira, Medina fazia questão de enfatizar a origem do seu desenvolvimento profissional: "Quando eu tomei posse na Academia, eu disse eu sou um homem feito em hospital público. Eu aprendi tratando o povo".

Um dos maiores atestados de seu reconhecimento foi durante a cerimônia de ingresso do Dr. Arno Ristow, seu assistente e antigo residente no hospital do IASERJ, na Academia Nacional de Medicina, em que seus colegas brincaram: "Medina, você entrou de novo? Porque só se falou de você".

As palavras de Patrícia Cavalari, funcionária administrativa da MEDPUC que tem um especial apreço por Medina, parecem sintetizar o sentimento geral sobre o homem além do cirurgião: "O Professor Medina era um homem fascinante, inteligente, sempre alegre, carismático, generoso, comprometido com o trabalho, com a vida, com as pessoas. Um ser humano fantástico".