Professor convidado da EMPG ganha destaque na Oftalmologia internacional

por Rodrigo Yacoub

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Uma das mais novas cirurgias no mundo – que devolve a visão para pessoas que desenvolveram cegueira absoluta ao longo da vida – teve um caminho árduo de preparação. Tanto o desenvolvimento da tecnologia como do cirurgião foram frutos de muito trabalho duro.

Das 150 cirurgias já realizadas no mundo, 5 foram no Canadá, e a mais recente foi realizada pelo Dr. Flávio Rezende Filho, chefe de Retina do Departamento de Oftalmologia do Hospital Universitário de Montreal. O brasileiro que mora fora há mais de 6 anos e volta ao Brasil apenas para ministrar cursos na Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, disse que sua operação foi complicada e para acontecer, teve que participar de treinamento intensivo na Itália. “Passei o dia inteiro lá com um cirurgião assistindo e até gravei a cirurgia. Ele me deu todo o material que tinha, eu conhecia todos os termos cirúrgicos e como tudo deveria acontecer no procedimento”, e acrescenta: “só que sem o acompanhamento de um profissional experiente não funciona”.

A operação durou quatro horas e meia, quando no cotidiano de um cirurgião de retina as cirurgias não passam de duas horas e meia. “Você precisa de um treinamento específico para poder lidar com o tempo e o desgaste físico. Alguns centros, preocupados com isso, realizam a cirurgia com uma dupla de cirurgiões para operar, trocando a cada período”. O requerimento necessário a todos os centros que já realizaram a cirurgia até agora foi o acompanhamento de um cirurgião experiente. “Essa medida é necessária, pois apesar do treinamento com a tecnologia utilizada é difícil preparar um cirurgião que nunca realizou a operação para fazê-la sozinho, de uma vez”, explica o oftalmologista. O cuidado é tanto que até representantes da empresa responsável pelas cirurgias estão presentes durante o procedimento.

Para trazê-la ao Brasil – meta do professor convidado da PUC-Rio, que ainda não tem prazo para acontecer – será necessária além da submissão e da aprovação pela ANVISA, a vinda de um profissional que já realizou a operação para ministrar cursos e participar da primeira sessão. “Eu gostaria de ser esse profissional”, admite o médico. “Eu me encontrei no exterior, pois realmente aprendi a correr atrás das coisas e a estar sempre presente neste ambiente de pesquisas e inovação. Venho para o Brasil para plantar a sementinha, fazer meus alunos aprenderem a buscar informação e perceberem a realização que isso traz”.

O professor doutor acrescenta que o período crucial para este procedimento é o pós-operatório, em que o paciente precisa de cuidados extensivos e específicos. “Além da medicina social no Canadá ser muito mais ampla, aqui no Brasil encontraríamos problemas com a reabilitação do paciente, que tem quase tanta importância quanto a cirurgia para dar certo. Os centros de reabilitação precisam ser muito bem equipados e ter profissionais qualificados para dar o atendimento e o cuidado necessário neste um mês de pós-operatório”.  

A tecnologia utilizada na cirurgia é, ao mesmo tempo, inovadora e retrógrada, pois suas imagens são apenas em preto-e-branco, e ao mesmo tempo nunca se ouviu falar de nada assim antes. “A tecnologia, antes de ser comprada, foi desenvolvida em parceria com a NASA. Esse é o grau de seriedade deste aparelho”, afirma Dr. Rezende Filho. Mas sua tela em preto-e-branco não deve durar muito mais. Ainda de acordo com o oftalmologista: “O aparelho foi criado na era do 4K. Estamos muito além do que éramos quando foi criada a televisão preto-e-branco. Com a gama de tecnologias que temos hoje em dia, a evolução da tecnologia será cada vez mais rápida. Gostaria de pensar que chegará um dia que a atualização de software acontecerá por aplicativos direto do smartphone – acabando com a necessidade de um aparelho específico para esta função”.

Por fim, o médico deixa transparecer o porquê da Oftalmologia e do interesse nessa cirurgia. “Meu pai é oftalmologista. A profissão dele me influenciou ao ponto de escolher medicina só pela Oftalmologia. Apesar de sempre saber que era isso, tinha um peso nas costas porque até o nome dele eu tenho. É uma responsabilidade tão grande que quis até escolher outra área – ele é especializado em catarata, por isso escolhi retina – para fugir da comparação”. Já em relação a cirurgia, o médico não conseguiu disfarçar sua vontade de ajudar. “Só de poder melhorar um pouco a vida desses pacientes, trazer para eles a visão – que eles nunca acharam que ia voltar – é a maior das recompensas”.