Aspirina e sua milésima primeira função

Por Rodrigo Yacoub

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Ingerir aspirina logo após um pequeno derrame pode reduzir os riscos de um novo derrame ou diminuir a gravidade desta segunda ocorrência, aponta novo estudo britânico.

Os miniderrames, também conhecidos como ataques isquêmicos transitórios, ocorrem quando há interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro. Isto pode causar fraqueza nos membros ou problemas de fala ou visão, mas tais sintomas geralmente desaparecem depois de alguns dias. O problema é que quem sofre um derrame de baixa intensidade tem uma tendência maior a sofrer o ataque numa escala elevada, com sintomas de maior duração, nos próximos dias.

O estudo, feito por pesquisadores da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, mostra que os benefícios para quem sofreu do derrame de baixa intensidade são mais efetivos se a aspirina for utilizada imediatamente pós acidente. Esse fato é relevante por que médicos já eram aconselhados a receitar aspirina para pacientes vítimas do chamado miniderrame, depois de serem examinados no hospital, para reduzir o risco de formação de coágulos sanguíneos e de um grande derrame. Os resultados mostraram que as primeiras horas a seguir são o momento ideal para se ter as melhores chances de evitar agravar o quadro no futuro.

Mas especialistas advertem: a aspirina não deve ser tomada sem aconselhamento médico, sobretudo por pacientes que tenham problemas como sangramentos e asma. Peter Rothwell, um dos líderes da pesquisa e também especialista em derrames da Universidade de Oxford acredita que, apesar do risco ser alto, o benefício que a aspirina poderia estimular é maior do que o malefício. Mas Rothwell e sua equipe pedem, no estudo publicado pela revista científica The Lancet, que diretrizes mais claras a respeito do tema sejam estipuladas, tanto para médicos quanto para pacientes.

A equipe de pesquisadores analisou dados de 15 testes de aspirina envolvendo cerca de 56 mil pacientes que tinham sofrido derrame e descobriu que quase todo o benefício com o tratamento - a redução do risco de outro derrame - ocorreu nas primeiras semanas depois de um miniderrame.

Os médicos também descobriram que a aspirina reduziu a gravidade destes primeiros derrames: o medicamento reduziu o risco de um derrame muito grave ou fatal em cerca de 70% a 80% nos primeiros dias e semanas. Apesar do sucesso do remédio, Rothwell relembra que usar a aspirina não substitui a consulta e acompanhamento de um médico.