Saliva: a chave para descobrir o câncer bucal

por Clara Pires

Pesquisadores brasileiros descobriram uma forma de diagnosticar a gravidade do câncer de boca através da saliva. A descoberta poderá ser usada para conduzir o tratamento do carcinoma oral, um tipo de modificação celular, que em 20% dos casos leva à morte em até cinco anos depois do diagnóstico.

De acordo com o estudo, 90% das amostras de pacientes apontaram a existência de proteínas que podem indicar o potencial surgimento da doença. Algumas diferenças importantes foram percebidas entre as proteínas, com ou sem lesões ativas, e as mesmas de pessoas saudáveis.

Segundo a coordenadora do estudo, Adriana Franco Paes Leme, "as proteínas selecionadas refletem alterações em mecanismos celulares que podem ajudar a elucidar o surgimento e a progressão do carcinoma".

As amostras de saliva foram coletadas pelo Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp) e pela Faculdade de Odontologia (FOP) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os resultados possibilitaram a identificação de 38 proteínas presentes apenas na saliva de pessoas com lesões ativas, além de diferenças na expressão de quatro delas encontradas nas vesículas extracelulares das salivas dos pacientes.

Uma proteína particular, conhecida como PPIA, se revelou mais propensa a um pior prognóstico da doença quando encontrada na saliva em baixa concentração, mesmo caso em enfermos em que as lesões já haviam sido cirurgicamente removidas.

"A saliva se mostrou uma fonte interessante de marcadores de prognóstico. Isso é animador porque se trata de um fluido que pode ser obtido sem a necessidade de procedimentos invasivos", disse a coordenadora.

Para os próximos passos, os pesquisadores pretendem avaliar um maior número de pessoas e incluir pacientes que já realizaram radioterapia. "O intuito é analisar amostras de sangue e tecidos de tumores. Os dados coletados vão continuar a ser relacionados com os históricos clínicos dos participantes.