Panorama médico atual e seus desafios

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por Isabelle Bernardes

O aumento do número de novos médicos formados impressiona as estatísticas no Brasil: em sete anos, mais de 100 mil médicos entraram no mercado de trabalho. A quantidade de médicos fazendo residência nunca foi tão grande. Um dos fatores do aumento expressivo de médicos é a abertura de novas escolas de Medicina no Brasil, totalizando mais de 290 cursos atualmente – 30% deles abertos a partir de 2013, devido à nova legislação. Estima-se que em duas décadas, haverá um crescimento de 200% no número de novos registros, de acordo com o estudo Demografia Médica, realizado pelo Conselho Federal de Medicina.

Manter a qualidade do ensino mesmo com o elevado número de instituições é uma preocupação dos órgãos reguladores da classe. O Decano do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da PUC-Rio, professor Hilton Augusto Koch, acredita que a falta de compromisso, tanto dos alunos como dos professores, é a principal causa da queda na qualidade da formação dos médicos atualmente. “A maioria dos alunos se acomoda durante a faculdade, por ter ajuda financeira dos pais e acaba prolongando seu tempo de permanência. Outro problema está no professor e na passagem do conhecimento ao aluno. O professor ensina o que ele sabe sobre determinada área, mas não ensina o que o aluno precisa aprender para ser médico e isso é bem diferente. O professor precisa saber controlar seu conhecimento e ter melhor didática ao passar o ensinamento ao aluno”.

A escolha da especialidade é uma importante decisão que define a carreira profissional de um médico. Atualmente, especialidades como Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral e Ginecologia e Obstetrícia estão entre as mais escolhidas por residentes no início da carreira. Segundo o professor Koch, a escolha da futura especialidade geralmente é influenciada por parentes que já têm experiência na área médica ou pela questão financeira: “os residentes mais novos têm escolhido as áreas mais rentáveis”, afirma Koch.

O coordenador do Núcleo de Inovação e Tecnologia em Saúde, professor Jorge Biolchini, apontou para importância de se fazer a residência ou a especialização logo após a graduação. “Quando o médico termina a faculdade e logo começa a fazer plantão, ele sem dúvida recebe mais no curto prazo, porém não vai aprender tanto e nem terá mais um diploma como quem entra na residência. Fazer residência ou especialização permitirá que o médico ascenda profissionalmente mais rápido, além de ter mais possibilidades de emprego posteriormente”, analisa o prof. Biolchini.

A Medicina é uma das áreas que exige mais tempo de dedicação, com 06 anos de graduação, mais pelo menos dois anos de especialização. Algumas áreas, como as cirúrgicas principalmente, exigem mais tempo de dedicação, podendo chegar a quase dez anos de estudo. “O maior desafio profissional de um médico é de estar sempre aprendendo, se ele para de aprender, começa a regredir”, afirma Biolchini.

Entre os principais desafios do futuro está a inserção da tecnologia. Os avanços tecnológicos aplicados à saúde são capazes de gerar benefícios tanto para os pacientes quanto para o profissional de saúde e sua equipe, tornando a prática médica mais eficiente. As melhorias em equipamentos e diagnósticos permitem procedimentos mais precisos e seguros na maioria dos tratamentos, garantindo uma melhor qualidade de vida a população.

“A inteligência artificial é um importante desafio a ser enfrentado, não só pela Medicina, mas em diversas áreas. Alguns estudiosos afirmam que para aprender a lidar com a inteligência artificial, será preciso que o médico se prepare mais nas áreas não técnicas, ou seja, nas áreas humanísticas. Aprender a trabalhar melhor em equipe, melhorar o relacionamento com o paciente, tudo o que a máquina não consegue substituir o ser humano. A máquina só pode substituir o médico em áreas mais técnicas, como nos diagnósticos e tratamentos, sendo mais precisos”, acredita o Prof. Biolchini.