Simpósio médico da PUC-Rio reúne profissionais para falar sobre o Futuro da Medicina no Brasil e no Mundo

Evento foi realizado em comemoração aos 70 anos da Medicina da PUC-Rio

Da esquerda para a direita: Hilton Koch, Padre Anderson Pedroso e Jorge Biolchini.

Por Nicole Rangel Correia

O futuro da neurocirurgia, tratamentos e diagnóstico para demência e questões éticas na medicina foram alguns dos temas abordados no simpósio que reuniu professores e alunos de Medicina e outras áreas da saúde no dia 14 de setembro, no IRCAD para América Latina.

Organizado em virtude do Jubileu de Platina da Medicina da PUC-Rio, o diretor do Departamento, professor Jorge Biolchini, ressaltou a programação definida para o evento: “esse simpósio foi pensado com temas transversais à área da Saúde, apontando para o presente e para o futuro.”

Em seguida, o decano do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, professor Hilton Koch, destacou a importância da equipe MEDPUC: “Essa equipe fez com que nossa Escola Médica se tornasse um Departamento, que tem tomado força”. Além disso, o professor também fez menção ao papel fundamental do Reitor da Universidade, Padre Anderson Pedroso, que logo teve a palavra.

Comentando sobre o projeto da graduação em Medicina na PUC-Rio, o reitor mostrou-se otimista a respeito de seu sucesso: “A pós-graduação em Medicina aqui da PUC já mostra que temos essa capacidade”. E reforçou: “tudo o que é feito aqui na PUC precisa ter a marca da excelência.” Por fim, o reitor Padre Anderson parabenizou toda a equipe de professores, funcionários e convidados do Departamento.


“Obesidade: tratamentos e intervenções”

Da esquerda para direita: Monique de Barros, Priscila Pyrrho, Márcio Baileiro e Fernanda Mattos.

Os avanços tecnológicos utilizados em cirurgias bariátricas foram tema da fala do cirurgião plástico Márcio Baileiro. Ele mostrou como a cirurgia é segura e confiável e conta com resultados eficazes aos pacientes. “Futuramente, acredito que teremos um tratamento totalmente medicamentoso para combater a obesidade, mas precisamos de paciência, especialmente em um país relativamente pobre como o nosso”, acredita o cirurgião.

A debatedora da mesa, professora Monique de Barros, perguntou ao cirurgião “Quais são as maiores causas de morte durante ou após a cirurgia bariátrica?”

“O problema crítico são os primeiros 5-10 dias. As principais complicações que nos preocupam como cirurgiões bariátricos são o sangramento e fístulas. Se investirmos em materiais e técnicas novas, teremos resultados como o da pesquisa que vimos, pouquíssimas mortes”.

A médica Priscila Pyrrho abordou o papel da disfunção mitocondrial no desenvolvimento da obesidade: “todas as doenças crônicas estão associadas a um processo inflamatório. Como falamos de inflamação sem falar de mitocôndria? Essa é uma organela fundamental nos processos metabólicos.” Além disso, a ginecologista ressaltou: “quando começamos a estudar mitocôndrias, vemos que elas são literalmente integrativas, e sua disfunção causa muito além da obesidade”.

“Uma suplementação, às vezes, de um único nutriente, talvez não seja eficaz. Por isso, precisamos de um suporte global, e a alimentação ajuda nesse processo antioxidante. Uma estratégia para combater a disfunção mitocondrial, e consequentemente a obesidade, seria a alimentação, o melhor pilar para mudar esse problema”, finalizou a médica.

“Faça do alimento o seu medicamento” foi a frase escolhida pela nutricionista Fernanda Mattos para iniciar sua explanação ainda na mesa de obesidade. “Nossa ferramenta de trabalho é o alimento, o cardápio. Por isso, não podemos perdê-lo, porque é o que temos de mais precioso. É repetitivo, mas acho que vamos ter que falar a vida inteira: como prevenção, consumir frutas, verduras, legumes e alimentos ricos em grãos, e reduzir o consumo dos ultraprocessados”.

Quando questionada sobre Qual seria a melhor estratégia para os pacientes que apresentam reganho de peso pós cirurgia bariátrica, a nutricionista respondeu que “a melhor orientação seria conversar com o paciente ainda no pré operatório. Primeiro, investigar se esse paciente está em bom acompanhamento: por vezes ele volta ao estilo de vida anterior, se alimenta mal, e volta a ganhar peso. Todos os fatores precisam ser avaliados para entender o que aconteceu, se é reganho de peso, ou não.”

A debatedora Monique de Barros propôs como última pergunta a todos os palestrantes: “quais seriam os critérios de escolha para um paciente se tornar elegível para a cirurgia bariátrica?”

O cirurgião Marcio Balieiro respondeu: “esse é um assunto muito controverso. É importante pontuar que obesidade é doença e bariátrica não é estética. Nem todos os pacientes com IMC elevado são levados à cirurgia, mas é ótimo quando alguns vêm interessados nesse procedimento mais eficaz, quando estão totalmente conscientes disso”.

A doutora Fernanda Mattos complementou: “fato é: não existe paciente perfeito, que vai fazer tudo certinho. Por isso, meu papel é trazer as ferramentas para que ele tenha o melhor resultado possível e trabalhar com ele educação nutricional a vida inteira.”

“Beleza e Saúde: avanços e ética no diagnóstico e tratamentos”

Médica dermatologista Mônica Azulay discursa sobre “Beleza e saúde: avanços e ética no diagnóstico e tratamentos”.

A segunda mesa seguiu com o tema “Beleza e Saúde: avanços e ética no diagnóstico e tratamentos”. O primeiro palestrante foi o professor Francesco Mazzarone, coordenador da Cirurgia Plástica da PUC-Rio, que falou sobre ética em saúde e beleza. O doutor iniciou seu discurso situando o público: “o que é saúde? O que é beleza?”, e assim mostrou uma relação direta entre os dois conceitos. Segundo o cirurgião, o público que busca os procedimentos estéticos prefere a “fantasia” do que a realidade: “a mídia reforça muito essa imagem fantástica do belo”. Como objetivo principal do seu discurso, o doutor deixou claro que a indicação e conduta da cirurgia plástica, para um profissional ético, demanda que o médico não induza o paciente a nenhum procedimento e atue com responsabilidade ao orientá-lo. 

Em seguida, a professora Mônica Azulay, Chefe da pós-graduação em Dermatologia Cosmética do Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay da Santa Casa Rio, prosseguiu o tema abordando que “a dermatologia cosmética já fala sobre beleza”, mas a relevância do seu ofício não é só na estética, e sim na saúde em geral: “A pele é o maior órgão que nós temos e os problemas causados nela muitas vezes são graves”. Nesse mesmo contexto, a doutora também mencionou a importância de aparelhos tecnológicos no consultório de dermatologia para resoluções de problemas tanto dermatológicos quanto estéticos. 

A radiologista Fernanda Cavallieri, Diretora Médica da Clínica Cavallieri, deu continuidade comentando sobre o ultrassom, seus avanços e impactos na dermatologia. "Diante de alguma alteração na pele, você tem uma gama de possibilidades de diagnósticos e o ultrassom possibilita essa descoberta”. Fernanda mostrou que o ultrassom é uma ferramenta muito útil no diagnóstico e controle dos tumores na pele e que sua utilização pode melhorar prognósticos e planejamentos cirúrgicos. Por fim, a doutora pontuou: “com o aumento de estudos na área, possivelmente estaremos diante de substituir por completo as biópsias diagnósticas por estudos ultrassonográficos”. 

Ao ser questionada sobre a marcação com o carvão, a radiologista explicou que indica para tumores em geral, e que realiza a marcação “naqueles com uma alta recidiva local”

Finalizando as palestras sobre o assunto, o cirurgião plástico e debatedor da mesa professor Marcelo Oliveira esclareceu a diferença entre ética e moral: “ética é obediência ao que não é obrigatório, o que é diferente de moral”. Ele também pontuou a definição de beleza por Ivo Pitanguy, professor pioneiro de cirurgia plástica no país e na Escola de Medicina da PUC Rio: “beleza não é estética ou física, mas um equilíbrio entre corpo, mente e espírito”. Além disso, o médico relatou as dificuldades de lidar com os pacientes que requerem os procedimentos estéticos: “a cirurgia plástica é a única especialidade que o paciente entra no seu consultório e te pede para operar. O paciente deseja realizar algo que ninguém gostaria de se submeter”, e concluiu mostrando a validação do profissional da cirurgia plástica e sua importância para o futuro da medicina no Brasil e no mundo.