Cerca 1,2 milhão de brasileiros têm Alzheimer
Ministério da Saúde estima que sejam diagnosticados 100 mil novos casos da doença por ano, no Brasil.
Por Carolina Lopes Bottino
Atualmente, cerca de 35 milhões de pessoas no mundo possuem o diagnóstico de Alzheimer, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Estima-se que o Brasil representa 3,5% dos casos, com 1,2 milhão de pacientes. Segundo a Alzheimer 's Disease International, o número global pode chegar a 74,7 milhões em 2030, e 131,5 milhões, em 2050.
Esses números têm crescido com o aumento da expectativa de vida devido a avanços científicos.
Pesquisas mostram que a doença surge com a desaceleração no processamento de proteínas do Sistema Nervoso Central, dando origem a pequenos fragmentos proteicos, tóxicos, que se encontram dentro dos neurônios e nos espaços vazios entre eles. Devido a toxicidade desses fragmentos, algumas regiões do cérebro perdem neurônios progressivamente, principalmente as responsáveis pelas funções de linguagem, raciocínio e memória.
Um dos principais fatores para o desenvolvimento de síndromes demenciais é a genética. “É claro que existem outras causas, como as sociais e ambientais, mas a de maior importância para o surgimento ou não da doença é a hereditariedade do indivíduo”, explica a neurologista Professora Maria Lucia Velluttini Pimentel, coordenadora da Neurologia da PUC-Rio e chefe do Serviço de Neurologia da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.
O estilo de vida detém papel importante nos casos de Alzheimer. Apesar da questão genética, os hábitos diários do paciente podem contribuir para o surgimento da doença. Estar em constante socialização, alimentar-se bem, ter cuidados com o sono e estimular as atividades intelectuais são cruciais para a prevenção e aumento da longevidade. No entanto, a neurologista reconhece que algumas dessas medidas necessitam de auxílio e apoio familiar, o que muitas vezes não ocorre, devido à rotina corrida dos parentes.
“A maior dificuldade é que os idosos perdem suas companhias, que falecem, e se veem sozinhos, com uma família muito ocupada, que não pode dar muita atenção, e isso contribui para uma perda cognitiva importante”, comenta a professora.
Entretanto, devido aos sintomas mais comuns terem ligação com o envelhecimento, alguns casos são interpretados primariamente pelos familiares como normais da velhice e, mais tarde, se descobre o Alzheimer. Sabe-se que existe um envelhecimento fisiológico normal da idade e há uma demora para lembrar nomes, fatos, lugares, mas eventualmente eles vêm à mente. Por outro lado, existem as síndromes demenciais, sendo que o Alzheimer faz parte das demências degenerativas e nelas é possível perceber sintomas como desorientação dentro de casa e o esquecimento constante a longo prazo.
A professora explica a diferença entre o envelhecimento fisiológico - comum a todos ao longo do tempo - e o envelhecimento patológico, onde surgem essas síndromes demenciais, como o Alzheimer. Existe, ainda, o meio termo entre essas duas vertentes: o déficit cognitivo mínimo, que são alterações na esfera cognitiva, mas que não interferem na atividade diária do indivíduo, ao contrário daquelas patológicas.
Ela afirma que os tratamentos atuais buscam inibir os sintomas da doença, a fim de retardar o processo e garantir uma melhor qualidade de vida ao paciente. Entretanto, novos estudos buscam reduzir o declínio cognitivo a partir da redução da proteína amilóide, que se acumula no cérebro do indivíduo, e a produção de acetilcolina, um neurotransmissor relacionado à memória, que possui uma quantidade reduzida em pessoas com diagnóstico de Alzheimer. Os estudos mais recentes podem ser encontrados em artigos científicos, publicados em revistas acadêmicas, como a Nature Medicine e a New England Journal of Medicine.
De maneira geral, a professora explica que a melhor forma de prevenir o Alzheimer e outras doenças degenerativas é estimulando o cérebro. Dessa forma, o indivíduo socializa constantemente e pode exercer atividades que desenvolvam seu intelecto, aprendendo coisas novas, além de manter uma rotina saudável.