Regulação do metabolismo durante o exercício intenso e prolongado
A redução das reservas de glicogênio prejudica a potência contrátil e interfere negativamente na sustentação de alta intensidade no exercício prolongado. Se considerarmos as evidências obtidas com isótopos de glicose C13 de que o consumo de carboidratos durante o exercício atenua a gliconeogênese e traz benefícios para atividade do sistema nervoso com pouca interferência sobre a taxa de degradação de glicogênio muscular, precisaríamos indagar sobre o que poderia enfim mitigar a alta velocidade de degradação dessas reservas?
Para além da intensidade e do volume do exercício, do nível de condicionamento aeróbico e do volume inicial da própria reserva de glicogênio, uma das respostas passa pela regulação da enzima fosfofrutoquinase (PFK). Esta proteína controla a velocidade da glicólise e pode reduzir a taxa de degradação do glicogênio ao mesmo tempo em que desvia moléculas para via das pentosesfosfato ativando sistemas antioxidantes importantes para atenuar a fadiga induzida por estresse oxidativo.
Evidências dos estudos seminais de Eric Newsholme já revelavam na década de 80 que o acúmulo de citrato no citosol seria capaz de inibir a PFK. Fruto da alta taxa de betaoxidação e da cetólise que produzem Acetil-CoA, bem como da presença de oxaloacetato que pode ser formado a partir da glicólise ou do catabolismo de aminoácidos, o acúmulo de citrato na mitocôndria e sua subsequente exportação para o citosol depende da inibição de enzimas do ciclo de Krebs que só ocorrem na alta disponibilidade de ATP.
Isso justifica que atletas melhores condicionados preservem as reservas de glicogênio e utilizem taxas de suplementação com carboidratos durante o exercício em dose suficiente para manter a síntese de oxaloacetato sem estimular a secreção de insulina, algo que inibiria o metabolismo de gorduras e de corpos cetônicos e que também tem sido criticado por representar uma impossibilidade bioquímica na opinião de muitos estudiosos. A esse respeito, a manutenção de níveis elevados de ácidos graxos no plasma colabora para síntese hepática de corpos cetônicos que representam importante fonte de energia paras as fibras musculares e também para o cérebro.
Sua suplementação durante o exercício vem sendo investigada em protocolos que ainda não evidenciaram efeitos positivos sobre o rendimento, mas que confirmaram que o controle dos níveis de insulina é fundamental para definir a taxa máxima de suplementação com glicose e revelar o impacto metabólico da suplementação com carboidratos. Tais achados podem ser importantes na medida em que se sabe que 50% da variação dos tempos em desafios de endurance como o triathlon são explicados pelo VO2 máximo e pela máxima capacidade individual de oxidar gorduras. (PMID 29050040)