Transgêneros no mundo do esporte

Por Isabelle Bernardes

Laurel Hubbard

Laurel Hubbard

Pela primeira vez na história das Olimpíadas uma atleta transgênero participou de uma competição olímpica. Laurel Hubbard, do time da Nova Zelândia, disputou na modalidade de levantamento de peso, e sua participação serviu de base para um acirrado debate global se as mulheres trans devem ter permissão para competir em eventos esportivos femininos e, neste caso, sob quais regras.

A participação de Laurel Hubbard foi possível por causa de mudanças nas diretrizes do Comitê Olímpico Internacional (COI) que, a partir de 2015, permitiu que homens que se identificam como mulheres disputem na categoria feminina desde que seus níveis de testosterona estejam abaixo de 10 nanomoles por litro por pelo menos 12 meses. Outro requisito é a declaração da identificação como mulher por um período mínimo de quatro anos – não há necessidade de cirurgia de mudança de sexo. Não existem restrições para mulheres biológicas que se identificam como homens.

Laurel Hubbard competiu como homem cisgênero até os 30 anos e, em 2013, fez a transição de gênero. Hoje, ela tem 43 anos. Para alcançar sua classificação para as Olimpíadas ela teve que manter, por 12 meses, o nível de testosterona do corpo abaixo de um número determinado pela Federação Internacional de Levantamento de Peso.

Defensores dos direitos trans dizem que excluir atletas trans é discriminatório e aumentará o preconceito contra as pessoas trans em geral. Já os críticos dizem que os atletas trans têm uma vantagem física injusta nas competições femininas.

Joanna Harper

Joanna Harper

A consultora do COI e corredora transgênero Joanna Harper realizou um estudo publicado na revista científica British Journal of Sports Medicine, que descobriu que os níveis de hemoglobina (a proteína que transporta oxigênio no sangue pelo corpo) em mulheres trans são semelhantes aos das mulheres nascidas com o sexo feminino biológico após aproximadamente quatro meses de terapia hormonal.

No entanto, sua pesquisa também concluiu que a massa corporal magra e a massa muscular de mulheres trans ainda permanecem acima dos níveis daquelas nascidas biologicamente mulheres após pelo menos 36 meses de terapia hormonal.

 

Harper defende que, no futuro, os atletas deixem de ser divididos entre homens e mulheres e sejam adotados outros critérios para definir quem competirá com quem.

Uma revisão de pesquisas existentes feita pela Universidade de Manchester e pelo Instituto Karolinska da Suécia constatou que a vantagem muscular das mulheres trans cai apenas cerca de 5% após um ano de tratamento supressor de testosterona.

Já a Universidade Loughborough, da Grã-Bretanha, descobriu que a terapia hormonal reduz os níveis de hemoglobina das mulheres trans, que afetam a resistência, se igualando ao das mulheres não trans em quatro meses. Mas a força, a massa corporal magra e a área muscular permanecem maiores após três anos de medicação para bloquear a testosterona.


 
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