Transmissão Transcontinental do Coronavírus

por Isabelle Bernardes

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O surgimento do coronavírus Wuhan (2019-nCoV) colocou o mundo em alerta máximo para a transmissão transcontinental. A Agência de Saúde da ONU já declarou Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional – uma designação raramente usada que poderia ajudar na coordenação internacional no combate à doença. A maior preocupação da OMS é que o potencial vírus se espalhe para países com sistemas de saúde mais fracos. Já são mais de 75.600 pessoas infectadas pelo vírus e mais de 2.100 mortes.

“A grande diferença desse vírus (2019-nCoV) é que ele ultrapassou a barreira genética do animal. Então é isso que chamou muita atenção e acabou preocupando a Unidade Internacional pela rapidez de propagação. O que podemos perceber é que a mortalidade desse vírus não está muito alta, porém a transmissibilidade está um pouco maior. Ou seja, ele se espalha mais, porém mata menos”, explica o infectologista Fernando Chapeman.

Desde o surto de SARS (SARS-CoV) em 2002, vários estudos estruturais estão sendo realizados para entender como esse vírus interage com animais e humanos antes de infectá-los. Em um estudo publicado no Journal of Virology, os pesquisadores descobriram que a mecânica da infecção pelo coronavírus Wuhan parece ser semelhante ao SARS-CoV. Os pesquisadores utilizaram o conhecimento obtido de várias cepas de SARS-CoV – isoladas de diferentes hospedeiros em anos diferentes – e receptores da enzima conversora de angiotensina-2 (ACE2) de diferentes espécies animais para modelar previsões para o novo coronavírus Wuhan. (Ambos os vírus usam o ACE2 para obter entrada na célula, mas serve normalmente como um regulador da função cardíaca). Após análises estruturais, eles conseguiram prever como o coronavírus de Wuhan usa o ACE2 como receptor hospedeiro. Os dados do estudo preveem que uma única mutação, em um ponto específico do genoma, poderia aumentar significativamente a capacidade do coronavírus de Wuhan se ligar à ACE2 humana. E que por esse motivo a evolução do coronavírus Wuhan em pacientes deve ser monitorada de perto quanto ao surgimento de novas mutações na posição 501 em seu genoma e, em menor grau, na posição 494, a fim de prever a possibilidade de um surto mais sério do que foi visto até agora.

Qual a origem do novo surto?

O surto mais recente de pneumonia viral na China, iniciado em meados de dezembro e agora se espalhando para Hong Kong, Cingapura, Tailândia e Japão possui algumas possíveis origens do surto. Estudo recente publicado no Journal of Medical Virology observou que alguns pacientes infectados pelo vírus foram expostos a animais selvagens em um mercado atacadista, onde frutos do mar, aves, cobras, morcegos e animais de fazenda são vendidos. Após uma análise genética do vírus e compará-lo com as informações genéticas disponíveis sobre vírus diferentes de várias localizações geográficas e espécies hospedeiras, os pesquisadores concluíram que o 2019-nCoV parece ser um vírus formado a partir de uma combinação de um coronavírus encontrado em morcegos e outro coronavírus de origem desconhecida. O vírus resultante desenvolveu uma mistura ou "recombinação" de uma proteína viral que reconhece e se liga aos receptores nas células hospedeiras. Esse reconhecimento é essencial para permitir a entrada de vírus nas células hospedeiras, o que pode levar a infecções e doenças.

Após grandes evidências no estudo, os pesquisadores concluíram que o 2019-nCoV provavelmente residia em cobras antes de ser transmitido aos seres humanos. E que a recombinação dentro da proteína de ligação ao receptor viral pode ter permitido a transmissão de espécies cruzadas da cobra para os seres humanos.

 

O vírus normalmente permanece no organismo da pessoa de 7 a 10 dias.

O tempo ideal de quarentena, para isolar a probabilidade de a pessoa ser um portador assintomático, é de 15 a 20 dias.

 

As pessoas devem tomar maiores precauções em locais de grande circulação, como aeroportos, shoppings e metrô. O uso de máscaras cirúrgicas comuns não ajudam a proteger contra o vírus. A utilização delas é importante para pessoas que estão resfriadas ou gripadas. Para as pessoas que não possuem nenhum sintoma e querem se proteger, a máscara indicada é a N95, pois esse tipo de máscara consegue filtrar 95% das partículas. Além disso, o uso de álcool gel e o costume de lavar as mãos com água e sabão podem ser boas maneiras de prevenir o contágio.

Pessoas saudáveis, que não possuem problemas de saúde, podem ficar mais despreocupadas com o vírus, pois caso seja infectado, a doença acontece de forma branda. Segundo o Infectologista Fernando Chaperman as recomendações de proteção são feitas para evitar a disseminação da doença.

Sintomas:

Os sintomas do coronavírus são semelhantes a qualquer outro sintoma gripal. Ou seja, é comum sentir prostração, mialgia generalizada, febre moderada (até 39 graus), pode causar dificuldade para respirar, tosses intensas, corizas. Pessoas que já possuem doenças respiratórias e fumantes podem desenvolver maiores secreções pulmonares.

Quem deve procurar uma assistência médica?

·       Pessoas que retornaram recentemente de viagens internacionais para países que já tiveram casos da doença.

·       Pessoas que tiveram contato com outras pessoas que possuem suspeita de coronavírus.

Diagnóstico:

“O diagnóstico do coronavírus é difícil de ser fechado, A pesquisa da doença é realizada a partir da biologia molecular, ou seja, é coletado o material (secreções do nariz e da boca) e ele é enviado para o laboratório para ser feito uma pesquisa molecular para identificar o vírus”, explica o Dr. Chaperman.

Tratamento:

O infectologista Fernando Chaperman explica que ainda não existe um tratamento ideal criado especificamente para o coronavirus. Por enquanto, ele está sendo feito de maneira sintomática, com uso de analgésico, medicamento para problemas pulmonares, espasmos, ou seja, os medicamentos utilizados vão variar de acordo com os sintomas individuais. Segundo ele, algumas drogas estão sendo testadas, porém ainda não foram aprovadas.

Carnaval X Coronavírus

Durante o período do carnaval o Brasil recebe muitos turistas de diversos lugares do mundo. Com a grande transmissibilidade do coronavirus, uma pergunta bastante feita recentemente é se o vírus pode chegar ao Brasil nesse período. O infectologista Fernando Chaperman acredita que esses turistas podem trazer o vírus para o país, porém não sabe se realmente é preciso muito alarde.

“Muitos pesquisadores e profissionais da área estão discutindo a possível chegada do vírus ao Brasil. Como a transmissibilidade do vírus está alta, nós acreditamos que o vírus chegará no nosso país. Mas a questão é que estamos no auge do verão e o hemisfério norte está no auge do inverno. O vírus que se comporta com características de gripe, no inverno ele possui um potencial de transmissibilidade maior. Então não sabemos se esse vírus de inverno vai conseguir ter uma vida ativa no auge do nosso verão. Eu acredito que mesmo que esse vírus chegue no Brasil, ele não vá trazer grandes problemas para nossa população. ”

Fontes:

https://www.sciencealert.com/it-s-official-who-just-declared-the-wuhan-coronavirus-a-global-health-emergency?perpetual=yes&limitstart=1

https://jvi.asm.org/content/early/2020/01/23/JVI.00127-20

https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/jmv.25682

http://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-02/brasileiros-repatriados-da-china-ficarao-de-quarentena-em-goias