Novos transtornos alimentares ganham destaque entre especialistas

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por Isabelle Bernardes

Em um país onde mais da metade da população está acima do peso e a obesidade é uma preocupação para quase 20% das pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde, novos transtornos alimentares estão recebendo mais atenção dos especialistas. Ortorexia e vigorexia têm sido identificadas com frequência nos consultórios de médicos e nutricionistas.

A Ortorexia Nervosa (ON) é descrita como um comportamento patológico que caracteriza-se pela fixação por uma alimentação saudável que se torna uma obsessão doentia com o alimento biologicamente puro, acarretando restrições alimentares significativas. O indivíduo que sofre com essa síndrome possui uma preocupação exagerada com a qualidade dos alimentos, a pureza da dieta (livre de herbicidas, pesticidas e outras substâncias artificiais) e o uso exclusivo de “alimentos politicamente corretos e saudáveis”.

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Oito em cada dez brasileiros dizem se esforçar para manter uma alimentação saudável. Os dados levantados pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) apontam que 71% dos entrevistados preferem produtos mais saudáveis, mesmo que tenham que pagar mais caro por eles.

Segundo a nutricionista Isabela Pessanha, o tratamento da ortorexia nervosa requer uma conduta semelhante à adotada para os outros transtornos alimentares. Para ela, é necessária uma abordagem interdisciplinar que envolva médicos, psicólogos ou psicoterapeutas e nutricionistas. “É ideal que se opte pelo tratamento cognitivo-comportamental para eliminar todos os comportamentos obsessivos que o indivíduo adquiriu por um longo período de tempo”, alerta a nutricionista.

O caráter positivo cultivado por uma alimentação saudável dificulta a aceitação de que determinados comportamentos “saudáveis” podem levar ao prejuízo da saúde. A consequência deste transtorno é que essas pessoas se privam, muitas vezes, de nutrientes essenciais ao bem-estar e à qualidade de vida. Além disso, tendem a se isolar socialmente, pois adquirem uma série de restrições alimentares que impedem o simples convívio social rotineiro. Não se trata de comer saudável, e sim de uma situação extrema e obsessiva em que a alimentação passa a dominar os pensamentos e conduta.

A Ortorexia Nervosa foi descoberta recentemente e ainda é pouco estudada, por isso ainda não existem muitos parâmetros válidos para diagnosticá-la. Um método utilizado é o ORTO 15, questionário validado para diagnóstico de ortorexia pelo Instituto de Ciências de Alimentos da Universidade de Roma. O questionário consiste em 15 perguntas abordando questões sobre a alimentação, desde a escolha, compra, preparo e consumo de alimentos, além do grau de influência no comportamento pessoal. Foi estabelecido um escore de 40 pontos como ponto de corte. Sendo considerados indivíduos com comportamento alimentar normal os que obtiverem pontuação menor que 40.

As consequências no estado nutricional de ortoréxicos são as mesmas que ocorrem a partir de uma alimentação inadequada como desnutrição, anemias, hiper ou hipovitaminoses, carência de nutrientes essenciais, hipotensão e osteoporose. Em casos mais avançados da doença, a própria carência de vitaminas pode acarretar alterações de comportamento que acentuam ainda mais a obsessão por alimentos saudáveis.

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Vigorexia também conhecida como Complexo de Adônis ou Transtorno Dismórfico Muscular

A Vigorexia é um transtorno dismórfico corporal caracterizado pela percepção distorcida da imagem corporal e pela depreciação do próprio corpo. Este transtorno possui prevalência acentuada no sexo masculino, porém pode atingir qualquer pessoa independentemente de classe social ou etnia.

 A atividade física que deveria ser algo saudável, se transforma em uma obsessão onde o indivíduo com desenvolvimento muscular adequado ou, normalmente, acima do esperado, se vê extremamente fraco e franzino. Muitas vezes acaba gerando um afastamento do convívio social devido a sérios problemas psicológicos de distorção da imagem corporal.

A busca incontrolável pelo corpo com músculos definidos traz consigo a diminuição do investimento na vida emocional, social e ocupacional por conta das longas horas investidas em musculação. O grande objetivo é aumentar cada vez mais a sua massa muscular e diminuir ao máximo a porcentagem de gordura do corpo, o que pode levar o corpo a extremos limites de exaustão.

Consequências da Vigorexia para o indivíduo:

·         Ansiedade e/ou Depressão

·         Deterioração das relações sociais

·         Insônia

·         Mudanças metabólicas no fígado e sistema cardiovascular

·         Aumento no nível de colesterol

·         Diminuição respiratória

·         Disfunção erétil

·         Hipertrofia Prostática

·         Hipogonadismo e Ginecomastia

·         Amenorréia

·         Ciclos menstruais irregulares nas mulheres

Os indivíduos acometidos por este transtorno alimentar geralmente tendem a não se importar com os riscos que o estilo de vida pode trazer e muitas vezes acabam fazendo o uso indiscriminado e proibido de anabolizantes ou esteroides visando ao aumento da massa muscular e a diminuição do percentual de gordura corporal.

Os estudos mostram que indivíduos que apresentam essa obsessão optam por dietas hiperproteicas, restringindo qualquer alimento que tenha carboidratos. Por isso é preciso que o tratamento seja feito por uma equipe multidisciplinar, envolvendo médico, psicoterapeuta, nutricionista, preparador físico e professores de educação física.

“É importante que o profissional de educação física saiba identificar os principais sintomas dessa psicopatologia para melhor orientar seus alunos. Com a identificação precoce, é possível uma maior prevenção de complicações para a saúde desse indivíduo” sugere a nutricionista Isabela Pessanha.