Médicos opinam sobre resolução de redução de cesáreas
por Anna Luiza Lira
O Ministério Público e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) colocaram, no mês de outubro, algumas medidas em consulta pública com o objetivo de reduzir o número de cesarianas feitas no Brasil. Entre elas está o direito de acesso à informação, que tornará possível às beneficiárias de planos de saúde o conhecimento das taxas de cesáreas e de parto normal.
Além dessa resolução, há também a exigência da distribuição do Cartão da Gestante, instrumento com orientações e registro das consultas de pré-natal; e o Partograma, documento feito pelo médico, que deverá conter anotações do desenvolvimento do trabalho de parto e das condições maternas e fetais, justificando, também, o motivo pelo qual o médico decidiu fazer cesárea.
Para o Professor Marcelo Lemgruber, Coordenador do curso de Ginecologia da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, a cesariana tem o risco de infecções como qualquer outra cirurgia: “o diferencial está no fato de poder ser realizada em qualquer circunstância, diferentemente do parto normal”. Para ele, o erro ocorre em seu uso abusivo, que muitas vezes está ligado a tomada de decisão não médica, como comodidade, conforto e escolha da própria paciente.
O diretor da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado do Rio de Janeiro (SGORJ) Professor Raphael Camara Parente afirma que não se pode dizer que a cesárea causa mais riscos à mãe e à criança do que o parto normal, pois se baseando nos estudos atuais e em condições normais de parto, não há diferença entre os dois. “Para fazer tal comparação é necessário olhar ponto por ponto, uma vez que cada um tem suas especificidades”, explicou Parente.
Ainda segundo Lemgruber, cabe ao médico indicar o melhor método para a paciente, seja ele o normal ou não. “O parto tem que ser o mais saudável. O parto ótimo é o que a mãe e o bebê acabam bem e você consegue atender a gestante”, afirmou o professor. Em relação às resoluções propostas, ele acredita que podem trazer melhor qualidade aos partos, porém estas carecem de dedicação, já que o médico precisa deixar de ter um dia corrido e ter mais tempo para cada paciente, a fim de ouvi-la, conversar com ela e entender suas motivações.
A ANS publicou que a razão dessa implementação é a preocupação com as taxas de cesarianas, muitas vezes desnecessárias, feitas no Brasil. Os riscos que esta causa à mãe e a criança são bem maiores, uma vez que aumenta em 120 vezes a probabilidade do bebê ter síndrome de angústia respiratória e triplica o risco de mortalidade materna, pois as mães ficam mais expostas a complicações como perda de maior volume de sangue, acidentes anestésicos etc.
“Não sei de onde eles tiraram esse número, de qual estudo, isso é um chute inventado por alguém há muito tempo”, afirma Prof. Raphael Parente. Segundo ele, 120 é um número muito grande, ou seja, seria um fator de risco que resultaria em morte. O obstetra diz que não se deve comparar uma cesariana de risco com o parto vaginal de uma pessoa saudável, que já teve quatro filhos, por exemplo. Ele continua, dizendo não ser a favor nem de um nem de outro, mas sim da autonomia da mulher, desde que ela seja bem orientada. “No parto normal há enorme dificuldade de achar hospitais capacitados, a paciente fica esperando ser atendida; e há também a cultura da cesariana, seja ela governamental, econômica e principalmente por preocupação estética”, finalizou o professor.