Microcefalia causa impacto de proporção nacional e pode ter ligação com o vírus zika
por Rodrigo Yacoub
O zika vírus, principal hipótese para o aumento dos casos de microcefalia, já foi confirmado em 14 estados brasileiros desde abril, segundo informação divulgada pelo Ministério da Saúde durante seminário na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Com mais de 400 casos de microcefalia confirmados – 21 deles só no estado do Rio – no país, foi lançado um Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia.
O ministro da Saúde, Marcelo Castro, considera a situação inusitada. O aumento dos casos de microcefalia até levou a uma revisitação do Ministério da Saúde e reestabelecimento dos sintomas e do que pode ser realmente enquadrado como caso da doença. A partir de agora, apenas bebês com 32 ou menos centímetros de cabeça – não mais 33 cm – serão suspeitos de microcefalia. O esperado para crianças que nascem com nove meses de gravidez é de, pelo menos, 34 cm de circunferência.
A relação entre o zika vírus e a má-formação genética se tornou popular após a identificação do micro-organismo em duas gestantes da Paraíba, que apresentaram sintomas da infecção durante a gravidez e tiveram bebês com microcefalia confirmada. Os exames laboratoriais feitos encontraram o vírus nas duas mulheres, no líquido amniótico - que envolve o bebê na gestação – o que trouxe cada vez mais crédito para a hipótese.
Essa relação entre o vírus espalhado pelo mosquito Aedes aegypti – mesmo transmissor da dengue – e a microcefalia nunca havia sido mencionada na literatura científica até o momento. Apesar disso, o Ministério da Saúde não acredita que o vírus sofreu uma mutação e se tornou mais perigoso. O diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis do ministério, Cláudio Maierovitch, afirmou em entrevista para a Rede Globo que, como o zika vírus era restrito a poquíssimas partes do mundo, ele não havia circulado tão intensamente, por isso estas consequências não haviam sido notadas anteriormente. Ainda não existe confirmação dessa relação ou do que está causando o aumento do número de recém-nascidos com microcefalia.
Entenda a microcefalia
Microcefalia é uma condição médica que se caracteriza por um crânio menor do que o tamanho médio, geralmente por causa de uma falha no desenvolvimento do cérebro. O problema pode estar associado a síndromes genéticas ou a outros fatores como abuso de álcool e drogas durante a gravidez ou a infecção da gestante por rubéola, catapora ou citomegalovirus.
Crianças que nascem com microcefalia podem ter o desenvolvimento cognitivo debilitado. Não há um tratamento definitivo capaz de fazer com que a cabeça cresça a um tamanho normal, mas há opções de tratamento capazes de diminuir o impacto associado com as deformidades.
Segundo o Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e AVC dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (Ninds-NIH), algumas crianças acometidas pela anomalia podem ter algum nível de incapacitação. Outras, podem se desenvolver de forma similar a outras crianças e ter inteligência normal.
Entenda o zika vírus
O zika é da mesma família do vírus da dengue e da chikungunya, e foi identificado pela primeira vez no Brasil em abril deste ano. Ele é transmitido pelo Aedes Aegypti. Foi identificado no Brasil pela primeira vez no final de abril por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pertencente à mesma família dos vírus da dengue e da febre amarela, o zika é endêmico de alguns países da África e do sudeste da Ásia.
Os principais sintomas da doença provocada pelo zika vírus são febre intermitente, erupções na pele, coceira e dor muscular. Segundo a infectologista Rosana Richtmann, a boa notícia é que o zika vírus é muito menos agressivo que o vírus da dengue: não há registro de mortes relacionadas à doença. A evolução é benigna e os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente em um período de 3 até 7 dias.
Como sua transmissão é via mosquitos, para a prevenção seguem as mesmas regras aplicadas a essas doenças. Evitar a água parada, local utilizado pelos mosquitos para se reproduzir, é a principal medida.