Filmes: sensação de pertencimento e aumento da tolerância à dor
por Clara Pires
Um estudo realizado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, sugere que assistir a filmes tristes, que fazem chorar, é uma forma de criar laços com outros seres humanos e aumentar a capacidade individual de tolerar dor física. Para testar a teoria, os pesquisadores pediram a 169 pessoas que assistissem ao filme Stuart: Uma Vida Revista e comparou as reações deles com a de um segundo grupo de 68 pessoas que assistiram aos documentários: O Museu da Vida: um olhar nos bastidores do Museu de História Natural de Londres e Mistérios da paisagem: em busca do ouro irlandês (tradução livre).
Antes e depois de assistirem aos filmes, os participantes responderam a dois testes – o primeiro media o sentimento de pertencimento e/ou ligação com os outros membros da audiência e o segundo media a sensibilidade à dor baseado no chamado “Roman Chair” teste, método conhecido para liberação de endorfina. Nele, as pessoas ficam a maior quantidade de tempo possível encostadas na parede em posição semelhante ao de sentar em uma cadeira. Segundo Robin Dunbar, líder do estudo, quanto maior o nível de endorfina, maior o tempo que a pessoa será capaz de sustentar a postura.
A maioria que assistiu ao filme sobre Stuart, que conta a história de um morador de rua alcoólatra que sofreu abusos na infância e acabou se matando, saiu aos prantos da sessão e conseguiu aumentar o tempo na “Roman Chair” em mais de 18% comparando com os testes iniciais e com o resultado das pessoas que assistiram aos documentários. Os pesquisadores também encontraram um aumento no sentimento de conexão social entre esse grupo, que sugeriu que passar por uma situação triste junto potencializa a vontade de compartilhar. O mesmo resultado não foi encontrado no segundo grupo.
Para Alexander Shackman, neurocientista da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, os resultados são bastante interessantes, porém deixam em aberto a possibilidade de existir outras explicações para o aumento do sentimento de ligação entre as pessoas.
“Nós sabemos que filmes emotivos podem ter efeitos complexos no cérebro e que um número de outros opióides pode influenciar na questão da tolerância de dor. Mas outros neuropeptídios, como a oxitocina, por exemplo, também desempenham um papel na ligação social”.
Segundo Dunbar, nem todo mundo respondeu da mesma forma ao filme e isso não é surpreendente se for levado em consideração os gostos individuais. Cerca de um terço das pessoas na realidade, ficou ainda mais sensível a dor e não experimentou a sensação de integração. No entanto, os resultados do estudo ainda são significativos para ajudar a explicar a reação de um grupo como todo.